14 agosto 2004

BRRRRRRRRRRRRR!!!


Escute aqui: você não se cansa de rir para todo mundo?

Ah, eu canso. Não sei como é que pode você, comadre, andar por aí toda prosa em horário integral, sem pausa nem pro cafezinho, cumprimentando os vizinhos, o carteiro, as babás da pracinha, os porteiros da redondeza e mesmo o seu patrão. Tem hora que chega, né?

Eu tenho pra mim que esse dom de sair na rua mostrando os dentes é uma questão de freqüência: há dias em que tudo bem; mas há dias em que, francamente, vibramos uma oitava abaixo. Dá uma vontade de responder – bom dia por quê?

Nada pessoal, mas tem um sujeito me acordando sistematicamente, essa semana, com uma britadeira ordinária que entra no meu sonho e não escolhe gênero: fura tudo. Romance, suspense, tudo. Se estou sonhando que o Marcelo Anthony enfim está, enfim, cortando salsinha na minha cozinha, entra a máquina e perfura a minha vida. Não me deixa nem provar o sabor da comidinha dele, que dirá o resto.

Ontem eu abri a porta da varanda, furiosa, mirei o assassino de sonhos e sua geringonça demoníaca, pigarreei três vezes. Nem me notou, claro. Seguiu entretido em sua tarefa bizarra de achar um esquilo ou um japonês, o que vier primeiro - só pode ser isso, e rezo para que ache logo, que assim o Marcelo e eu podemos terminar o que havíamos começado. Infelizmente, meu protesto silencioso resultou em absolutamente nada, e o sujeito segue furando o que vê pela frente.

Se a prefeitura quer mesmo mostrar serviço, deveria providenciar um silenciador gigante para essas engenhocas, ou então um concreto não perfurável, ou um barulho não audível. Ou, em último caso, homens sem braço. Qualquer coisa.

O que não pode é eu, uma pré-balzaquiana de hábitos incorrigivelmente noturnos, ficar sendo importunada às poucas da madrugada por um ruído maquiavélico desse calibre. O prefeito sabe quanto custa uma bisnaga de creme antiolheiras? Sabe?

Bom, as eleições estão aí.

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