04 fevereiro 2005

Big Mac

Eu sei! Eu sei que vocês estão cansados de passar por aqui e encontrar, em vez de croniquetas engraçadas do dia-a-dia, um ou outro poeminha-fast-food (com a diferença de que ninguém aqui pediu pelo número, mas eu jogo no balcão mesmo assim). Eu sei que vocês estão fartos da minha comidinha sintético-literária. Mea culpa.

Minha sorte é ter cultivado amigos leitores - e leitores amigos - que voltam, faça chuva ou faça sol, ainda que eu não mereça. (Bolero ao fundo - fade in).

Ah, eu sei que vocês voltam. Meu contador denuncia. Almoçam em outros restaurantes, mas dão uma passadinha aqui para o cafezinho. E ainda saem sem fazer barulho, para não me acordar.
(Bolero – fade out. E sobem os créditos).

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DVD

Diquinhas de filme? Estou um pouquinho atrasada com os lançamentos. Os últimos dois que eu vi (e valem a pena!) são:
Cold Montain – com Nicole Kidman e Jude Law, ambos em brilhante atuação. Drama de amor e guerra, filmão, não percam.
Sobre Meninos e Lobos – suspense barra pesada, com Sean Penn no papel principal. Aplausos mil.

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Cinema

Faz tempo que não vejo algo realmente empolgante. A continuação de Onze Homens e um Segredo (que eu adorei), Doze Homens e Outro Segredo, vale pelas “estrelas” e pela trilha sonora. Pouco mais do que isso. Meu irmão observou: as tomadas também são muito bem feitas. Vá lá, é verdade. No mais... menos.

Outra experiência pouco feliz foi Os Sonhadores – o último do Bernardo Bertolucci. Aí vocês vão me desculpar, porque eu sei que não pega bem falar mal de filme do Bertolucci, mostra que a pessoa... bem, não sacou a poesia. Para dizer o mínimo.

E eu não só não saquei a poesia, como achei o filme chato, aborrecido. Diálogos do tipo “para causar efeito”, frases jogadas como quem dá uma cartada. Dois meninos pelados e uma menina peluda – pelada -, num jogo sexual que até podia ser interessante, do ponto de vista psi-qualquer-coisa, mas, sorry, ficou muito aquém. E olha que não sou de usar “aquém” gratuitamente.

Várias citações do cinema (uau, clássicos!) funcionam como uma piscadela cúmplice para o expectador cinéfilo, que aí se identifica total. Para completar – já ia me esquecendo -, o filme é sobre o famoso maio de 1968 em Paris, protestos estudantis etc. Outra coisa que funciona. E a trilha é recheada de estrelas do rock dos anos 60. Funciona.

No fim, é muita coisa que funciona - que quer mostrar, que quer dizer, que quer chocar, que quer... o filme quer muito.

Nada contra querer, mas o resultado final não me pegou – nem pela poesia, nem pela crítica, nem pela garganta, nem pelo sexo... Não bateu.

Ou vai ver que eu não peguei, sabe, a poesia.

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Livros

* Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século

Eis um livrinho fofo, de bolso, que o escritor Marcelino Freire teve a boa idéia de lançar e fez bonito. Nele, 100 escritores foram desafiados a escrever “algo relevante” de até 50 LETRAS. (Isso mesmo, 50 letras!).

O resultado é uma delícia. Você abre em qualquer página e se põe a aperitivar pequenas pérolas literárias contemporâneas – despretensiosas, bem humoradas, e, sobretudo, enxutas.

Tem Millôr Fernandes, Adriana Falcão, Xico Sá, Glauco Mattoso, Márcia Denser, Moacyr Scliar, Fabrício Carpinejar, Jorge Furtado... (e mais 92, naturalmente).
Podendo, comprem!

* Benditas sejam as moças: As crônicas de Antônio Maria – organização: Joaquim Ferreira dos Santos

Mas eu ando enamorada é do Antônio Maria (1921 – 1964), com esse livro de crônicas que é uma aula do gênero – quase todas dos anos 60, publicadas no Última Hora, mas atualíssimas. Pelo jeito, ele era mesmo uma figura. Olha só o que eu tirei do site Releituras, sobre o próprio:

(...)
Carlos Heitor Cony dizia que se o autor fosse mandado para cobrir a posse do papa, voltaria cardeal.

Cony conta: "Um dia, Maria me telefona: — Carlos Heitor, Carlos Heitor, você nunca me enganou." Disse então que, vindo de São Paulo, viu no avião uma mulher linda lendo o livro Matéria de Memórias, de Cony. Aproximou-se, se apresentou como o autor do livro, e a mulher, uma típica apaixonada, acreditou. Pintou para ela um quadro bastante dramático: era um desgraçado, que nunca tinha tido sucesso, que as mulheres o abandonavam. "— Mas, Maria..." era tudo o que o espantado Cony conseguia dizer. "— Fica tranqüilo, Cony, fica tranqüilo porque em seguida nós fomos pra cama. Ou melhor, você foi pra cama." E Cony, curioso: "— E ai?" "— E aí foi que aconteceu o problema" — gargalhava Maria. "— E ai você broxou, Cony, você broxou!"

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