30 junho 2005

Qualquer uma


Fui cortar o cabelo, mas a moça que eu conhecia saiu do salão, então o jeito foi encarar qualquer uma mesmo. Quando me sentei na cadeira e olhei para a cara daquela 'qualquer uma' que me arranjaram, tive vontade de sair correndo. Mas já era tarde. E o café estava ótimo, verdade seja dita.

A moça estava maquiada de arco-íris. Bochechas, pálpebras, boca, cílios - cada coisa de uma cor diferente. E falava como quem se dirige a uma criança. Sabe voz de “tia”? Estava vendo a hora de ela sacar um pirulito do bolso.

- Ooooooooi, tudo bem???
- Tudo.
- E então. Me conta, vai, me conta tuuuuuudo. Quem foi que te indicou? Como você ficou sabendo do meu nomezinho? Hein?

(O sorriso colorido era uma caricatura, parecia mastigar um cabide).

- Ah... na verdade, eu cortava o cabelo antes com a...
- E como a princesa vai querer o cabelinho?
- Quem?
- Vai querer tirar as pontinhas, vai querer fazer outro corte, vai seguir nessa mesma linha, vai...
- Só tirar as pontas.


E ela tirou mesmo. E até que ficou direitinho.

Bonita era a minha cara de alívio quando saí de lá. Vim saltitando até em casa. Afinal, não é todo dia que se enfrenta uma doida com tesoura na mão, e se escapa com vida. Graaaaaças!

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E o papo da mulher loira que fazia os pés e abanava as mãos para secar o esmalte:

- Preciso ficar linda hoje, hein? Capricha aí, porque o meu marido é perfeccionista.

(Nessa hora, quase me intrometo: “jura que o pé é dele? Tá meio maltratadinho mesmo, mas ninguém diz que é de homem... hoho, maldade).

- Maridão chega hoje de Boston. Nós moramos lá, mas eu vim primeiro com as crianças. E ele repara tu-di-nho. Impressionante. Outro dia, a gente conversando pela webcam, e ele logo disparou: fez a sobrancelha hoje, amor?? Não tô dizendo? Então não conheço a figura?

Sei. Então tá. Eu não deixava um marido que repara desse jeito solto em Boston, não...

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