09 maio 2006

Sério - quem tem peito?


Hoje eu fiquei absolutamente chocada, e vou contar por quê.

Minha afilhada tem 12 anos. Há pouco tempo ela entrou no Orkut, e eu recebi um recadinho fofo: “oi, madrinha! Vc tem MSN?”, essas coisas. Como moramos em cidades distantes, o contato é raro. Fiquei toda feliz por reencontrar aquela gracinha de menina – que, infelizmente, e para desgosto da madrinha escritora, usa uma ortografia que beira o indecifrável (axim escritu comu nem sei imitar direito!), mas isso hoje não vem ao caso.

Vamos ao que vem ao caso – sério.

Quando fui acessar o perfil dela no Orkut, havia embaixo alguns “depoimentos” (em geral, elogios que os amigos escrevem sobre a gente, e que servem para fazer uma espécie de média - terceirizada, o que só agrega valor! – com os possíveis visitantes). Num desses depoimentos, encontrei uma coisa que me chamou a atenção: a amiguinha em questão se apresenta no Orkut com uma foto onde aparece só enrolada numa toalha. A menina tem 12 anos. Olhei de perto, e era isso mesmo. Não aparece nada além de um pedaço da toalha, os ombros, o rosto infantil e o cabelo molhado.

Aquilo me deixou espantada. Como não tenho nenhuma amiga de 12 anos, não costumo visitar perfis dessa faixa etária no Orkut. Não sei dizer, portanto, se é comum as meninas tirarem esse tipo de foto e colocarem à disposição do mundo virtual.

Não sei dizer, também, o que os pais e as mães (reais) dessas meninas pensam disso. Se é que sabem que as filhas exibem seus colos nus, rostos infantis e cabelos molhados na rede.

Para mim, já era bastante desconcertante ver aquela menininha, enrolada na toalha, fazendo cara de sensual para a câmera. Cliquei nela. Curiosidade mesmo. Quis ver o sobrenome, a origem, se havia pai ou mãe no perfil, enfim, acho que eu queria mesmo era ver a assinatura do pai ou responsável. Claro que não havia nada disso. Mas havia coisa bem pior.

Na página de recados dela, tinha lá um sujeito adulto, certamente com mais de 30 anos, que dizia: “Não sei... posso ser, quem sabe, seu novo amigo...”.

Achei o tom daquele recado muito esquisito, e fui clicar no perfil do cara. Não deu outra. Na página de recados dele, várias (e ponha várias nisso!) meninas aparecem perguntando: “Desculpe, eu conheço você?”.

Para quem não é familiarizado ao Orkut talvez isso não esteja muito claro, então eu explico: o sujeito visita muitas meninas menores de idade e manda recados “puxando um papo”.

Quem cair na rede, caiu.

Voltei à página de recados da menina de toalha e fui pesquisar qual havia sido o primeiro recado dele a ela. Como teria iniciado o papo?

Não apareceu nada. No Orkut, a pessoa que envia um recado pode perfeitamente apagá-lo quando bem entender. Ele deve apagar todos.

Eu sei que vocês estão pensando em pedofilia. Mas eu não estou (não só nisso).

Estou é pensando no Dia das Mães. E no Dia dos Pais, e no Dia dos Avós. E no dia em que alguém vai ensinar à amiga da minha afilhada noções básicas de valor, comportamento e perigo - sem temer ser rejeitado pela adolescente, ser taxado de “careta” ou “corta-barato”. Alguém que não queira ser mais um amiguinho “qui escreve axim”. Porque aquela menina, que mal tem peito para segurar a toalha enrolada ao corpo, certamente está enchendo a cabeça de abobrinhas que poderão lhe custar mais caro do que ela tem discernimento e maturidade para imaginar hoje.

E, àqueles que têm discernimento e maturidade, eu pergunto: cadê peito para ensinar???

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