23 fevereiro 2007

Os 10 dias de Lara

Ela é morena e nasceu cabeluda. Faz caretas divertidíssimas, tem o bocejo mais lindo do mundo e enruga a testa quando abocanha o bico do seio para depois sugar. Dedos compriiiidos. Narizinho arrebitado, pernas longas, olhos doces amendoados.

Improvisa sorrisos que nem ela sabe e deixa todo mundo babando - imagina só quando ela souber que sabe sorrir!

Chora só quando se sente incomodada - uma cólica aqui e ali, nada de mais, logo passa. No resto do tempo mantém o rosto sereno, mesmo acordada; olha para os lados e parece refletir sobre coisas sérias como o papel da filosofia no mundo contemporâneo, a cotação do dólar, a previsão do tempo, a vida dos outros...

Ontem fomos ao pediatra, primeira vez que ela saiu de casa. Foi calada daqui até lá. Volta e meia abria bem os olhos e me mandava a seguinte mensagem subliminar:

"Estou colaborando, mas não abusa."

Durante a consulta o médico apertou a barriguinha, examinou o ouvido, a boca, o nariz, o diabo a quatro. Ela chorava, inconsolável. Mandava a seguinte mensagem subliminar:

"Estou avisando para não abusar!!!" (Agora com exclamações lacrimejantes).

Quando o doutor a levantou e testou os reflexos fazendo-a "caminhar" sobre a mesa, esgotou-se a paciência:

Lara, minha filha, fez cocô no final do percurso e batizou a bancada do médico.

E foi ótimo, porque ali mesmo ele pôde fazer a análise visual do material: "o cocô dela está muito bom, viu?".

Eu sabia, eu sabia. Mamãe abriu um sorriso amarelo e saiu toda orgulhosa. Não quero dizer nada, mas o cocô da minha filha é um sucesso.

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