03 outubro 2004

FNAC

Café + quiche na Fnac do BarraShopping = minha alegria quase infantil, soterrada em livros, CDs e DVDs da loja mais deliciosa do mundo; não estou pra ninguém, não vejo pessoas – vejo interesses. Não vejo semblantes – vejo pontos de interrogação e exclamação esculpidos nos rostos dos mais diversos tipos (impublicáveis) que folheiam os mais diversos tipos (publicáveis).

Estou só olhando, aqui sentada. Aquele cabeludo de bigodinho cafajeste se aproxima dos periódicos, eu já sei, ele vai até as revistas de música, olha o tipo, não tem erro, braço fortinho, bermudão, conheço, bingo: baterista. O japa ao lado é mais do tipo Home Studio; nem preciso dizer que acertei. Vai um Pro-Tools, amigo? Açúcar ou adoçante?

A menina que está decidindo o que fazer na faculdade - elas dizem só facul - sai abraçada em meia-dúzia de revistas de moda. Quero ver o que o pai dela vai dizer - minha filha, nunca pensou em direito? Não enche, pai! – ela vai sair desfilando, e aí já era.

Uma coroa meio blasé pede um brownie aqui ao meu lado. Enxutérrima, tá podendo. Ela bebe o café, folheia uma revista e mordisca o brownie. Que coroa não morde; mordisca. Eis a sabedoria da maturidade.

Mas, qual foi mesmo o motivo da vinda? Não há um dia sequer que eu entre na Fnac e não me disperse do objetivo. Dessa vez, da Objetiva: ah, sim, o romance de estréia do Arthur Dapieve.



Que, aliás, trouxe para casa e li de uma só tacada, com pausa apenas para água (pela boca, adentro, e pelos ouvidos – o barulhinho da chuva lá fora, que delícia de trilha sonora).

O texto dele é de uma fluidez incrível, e curiosamente compatível com algum belo rebuscado literário – coisa de quem sabe o que está fazendo, afinal. A história começa no Rock in Rio III, e por aí o leitor, que não é surdo, já pode pegar o tom: vem rock’n roll pela frente. Como, aliás, não poderia deixar de ser. Ou poderia, mas seria um desperdício.

O personagem principal é um publicitário de 46 anos, carioca, casado, que se apaixona perdidamente pela estagiária, uns 20 anos, ruiva e gostosa como convém às estagiárias das agências dos publicitários quarentões casados. Ou não, porque a tal “relação” – se é que se pode chamar assim -, de conveniente, não tem absolutamente nada.

Do show do R.E.M. (janeiro/2001) em diante, portanto, o que se lê é uma turbulenta - ora hilária, ora patética, ora atrapalhada, mas sempre muito bem contada - história de amor-tesão-paixão-obsessão-ciumeira, ou o que quer que esteja no meio do caminho disso tudo, se é que alguém sabe definir o meio do caminho desse tipo de coisa. E o livro é sobre isso, também; sobre não haver um meio caminho para certas coisas que já nascem nos atropelando.

Eu recomendo a leitura, sim senhores!

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