30 abril 2005

Sábado bom


Sábado amanheceu com chuva e árvores dançando aqui em frente.

“Venta / ali se vê / aonde o arvoredo inventa um ballet”
(Nei Lisboa)


Americanas.sem


Meu irmão fez uma compra pela Americanas.com, que não chegou dentro do prazo prometido. Mandou e-mail cobrando. Ninguém respondeu. Mandou outro. E nada.

Ligou para a central de atendimento (você é quem paga a ligação). Hoooooras e horas para ser atendido.

- Eu queria saber do meu pedido, número tal.
- Um momentinho que eu estarei verificando, senhor...
Um momentão se passou.
- Realmente, senhor, consta aqui que a sua compra não chegou.
- Sim, isso eu sei. Queria saber onde foi parar, então.
- Consta aqui que o produto estará voltando à loja, senhor.
- Voltando? Mas por quê??
- Não tenho essa informação, senhor, desculpe...
- Tá bom. E eu vou receber quando, afinal?
- Depois que o produto retornar à loja, teremos um prazo de seis dias úteis para a nova entrega.
- E quando é que chega na loja?
- Não temos essa informação.
- Sei. Então eu quero cancelar o pedido.
- O pedido só poderá ser cancelado depois que o produto chegar à loja, senhor.

Aí ele armou uma quizumba, e a moça “abriu uma exceção”: cancelou o pedido na hora mesmo.

29 abril 2005

Lembrete


O computador vive emoldurado por dezenas de post-it - que eu grudo, compulsivamente, para me lembrar dos compromissos. Até para tomar comprimido tem post-it. Acabou o sabão em pó. Post-it. Médico. Post-it. Filme que vai estrear no cinema. Post-it. Assunto para coluna na revista. Post-it. E eles estavam acabando.

Cheguei em casa, toda animada.

- Olha! Comprei mais um moooonte de post-it!

Meu irmão, balde-d’água:

- Bah, Bíbi. Abre essa mão e compra logo um Palm.

Homem, para gostar dessas engenhocas, nunca vi. Graça nenhuma. Se o post-it é tão mais coloridinho...

***

Não sei se vocês já perceberam, mas eu estou postando pra caramba durante a semana. É para distrair vocês - já que, como têm notado, nos fins de semana é mais raro eu escrever aqui. Tem fundamento. Este blog está se profissionalizando. Passo a passo.

Primeiro passo: a folga.
Hoho.

***

Faço frete


Sem entrega
dá mais barato
- ponderou.

Montou-se
Instalou-se
Ligou-se
Divertiu-se
Brigou-se
Desculpou-se
Voltou-se
Amou-se.

Entregou-se, enfim.

Deu foi um barato
maior ainda.
Papo no salão


Mãe da Gabriela (7 anos) contando:

- A Gabi inventa cada uma! Outro dia, voltávamos de Angra quando ela anunciou: “Mãe, temos que correr!” Tinha festa de um amiguinho, no play, dali a uma hora.

Chegamos em casa, ela numa euforia só. Tomou banho, enfeitou-se toda e saiu, mandando beijinhos no ar.

Lá pelas tantas, voltou, com uma sacolinha cheia de doces. Chapeuzinho, língua-de-sogra etc.

Dia seguinte, chega em casa o Vítor, irmão mais velho, contando: corria no prédio o boato de que a Gabi tinha sido expulsa da festa no play.

“Que história é essa, minha filha??”

“Mentira, mãe! Tudo mentira. Eu não fui expulsa, nada. A tia lá (mãe do aniversariante) uma hora olhou pra mim e disse que não me conhecia, o que é que eu tava fazendo lá, e tal. Eu falei a verdade. Quem me convidou foi o filho dela!!”

Detalhe crucial: o garoto fazia um ano.

“Gabriela!! Você entrou de penetra na festa, que coisa mais feia!! Que vergonha, minha filha, ser expulsa...”

“Já disse que não fui expulsa, mãe! A mulher só pediu para eu me retirar. Só que eu ainda tava com fome, daí enchi uma sacola com os docinhos e vim embora, foi isso. A festa tava meio chata, mesmo. Uma pirralhada, não tinha ninguém da minha idade. Mas o brigadeiro tava show...”

***

As outras mulheres no salão ficaram indignadas com a tal mãe do aniversariante, que coisa feia fazer isso com uma menina de sete anos, tadinha! Aí a mãe da Gabriela contou outra.

***

Um dia, fui levar a Gabi para brincar na piscina do prédio. Cheguei lá, e, como de costume, esparramei os brinquedos dela pela água. Foram chegando outras crianças, outros brinquedos – é sempre assim, acaba todo mundo partilhando, mistura tudo, depois cada um cata os seus e vai embora, né?

Pois bem. A Gabi, lá pelas tantas, brincava com a boneca de outra menina. Foi quando a mãe dessa menina chegou para mim e disse, com o maior jeito de antipática:

- Você poderia pedir à sua filha que devolvesse a boneca da MINHA filha, por favor?

Não tive dúvida.

- Pois não. Gabi, querida, devolve a boneca da sua amiguinha.
- Ah, mãe, mas ela me emprestou... (realmente, a amiguinha não estava nem aí para a boneca).
- Eu sei, filhinha, que ela te emprestou. Mas a mãe dela é sem educação, e não quer que você brinque com a boneca dela.

Falei bem alto, todo mundo viu. A mulher ficou a-zul.

28 abril 2005

D’eu no Globo


Meu sonho era o meu blog sair numa coluna de algum caderno de informática. Tenho alguns amigos blogueiros que já saíram. Chiquérrimo. A gente se sente meio assim, sabe como é, ego-ponto-com.

Pois o Gravatá, do caderno de Informática do Globo, deu-me esta honra no dia 18/04.

E a indicação ainda foi parar no blog dele. Confira o texto:


Bibi que barbaridá

Quando se fala em movimento messiânico no Brasil, logo nos lembramos de Canudos e Contestado. Pouca gente se lembra dos Mucker, dizimados pelas tropas de San Tiago Dantas no século 19 em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Pois foi lá que nasceu Bibi Da Pieve, a cronista-revelação da revista “Época” que hoje divide o tempo entre a pena, o teclado e sua banda de rock (é baixista e vocalista). Apesar de ser da terra de macho e da brava líder messiânica Jacobina Maurer, Bibi não agüenta mais receber propostas para aumentar o pênis. “E o trabalho que vai dar para erguer esse monstro do prazer? Haja comprimido-guindaste!” protesta a bem-humorada escritora. Clique aqui para acessar o site de Bibi.
Corja de incompetentes

Comprei a calça jeans. Não foi barata. Usei poucas vezes. Começou a descosturar o bolso, do nada. E o cós também. Eu bufo, tu bufas, ele bufa, nós bufamos.

Bufando, fui ao lugar onde eles supostamente concertam roupas. Mostrei – aqui e ali, assim e assado -, expliquei o ocorrido, com a maior calma. Dá para arrumar isso? Sim, dava. Que eu fosse buscar dali a três dias. Combinado. E pago, inclusive.

Volto lá hoje, a moça demora a achar, mas acha. E a calça vem parar nas minhas mãos. Um pedaço do cós está arrumado. O bolso, do mesmo jeito. Ali adiante, ainda no cós, um trecho permanece descosturado. Eu bufo, tu bufas...

- Olha só... (inspiro)... aqui ficou um pedaço aberto, aqui ficou outro... (expiro)...

A moça olha bem para a minha cara, com jeito de quem pensa: “Ô, perua nojenta! Nunca está satisfeita, não??”. E vai lá para os fundos, consultar a costureira-com-cara-de-jabuti-lesado. Costureira olha por cima dos óculos, com desdém. Examina a calça. Mexe, remexe, faz um biquinho de insatisfação.

A moça volta e me diz:

- Ela disse que só tinha visto aquela parte... tem como cê buscar amanhã??

Eu sei. Eu sei que devia ter acertado a sombrinha no meio da testa da costureira, criando assim o primeiro jabuti unicorne da Terra – ia dar no Globo Repórter e tudo, eu sei, perdi essa.

Mas meu dia foi difícil. Fui dormir lá pelas tantas da madrugada, e me acordei às 8h da matina com um megafone estourando meus tímpanos - o sujeito anunciando/ameaçando que ia ter feira, de hoje em diante ia ter feira, legumes e verduras pelo melhor preço... e os fiadasputa vão escolher logo a praça em frente à minha janela para fazer isso! Tá bem.

Aí a minha disposição não vai até as 3h da tarde, sobretudo para golpes mais bruscos, como o da sombrinha na testa do jabuti. Ocorre que resolvi aceitar, volto lá amanhã, ou depois, ou qualquer dia desses, e pego a maldita calça que nem sei se eu quero mais.

- Mas só depois das 20h, tá?

Dá vontade de morrer... Só para voltar à meia-noite e puxar o pé dela, eu digo.
O Papa é pop

E o pop não poupa ninguém. Essa eu não vou perder. Meu irmão, outro dia:

- Tô com medo desse novo Papa...
- Por quê?
- Mó cara de Hannibal!

Desculpe a malcriação católica. Mas, bah, tem a ver...

27 abril 2005

Pegadinha virtual


Recebi hoje a mensagem abaixo, e logo fiquei desconfiada:

Esta é uma mensagem automática. Não responda!
Olá, Você está recebendo um cartão virtual VOXCARD remetido por:

Otavio - otaviol@hotmail.com.br

clique aqui para ver seu cartão

Caso não consiga visualizá-lo, digite o código 93E76B4YF68A3RF326GT392876DF62 no campo existente em nossa página principal.

Este cartão ficará disponível por 3 dias.



Ã-hãm, sei. Primeiro, que não conheço nenhum Otavio. Assim, sem acento, pior ainda. Desconfio muito de Otavios sem acento.

Como o site VOXCARDS (de cartões virtuais) realmente existe, resolvi ir direto à home page deles, em vez de clicar nos caminhos sugeridos pelo e-mail que eu recebi. Cheguei lá, coloquei o (suposto) código no campo existente para “ler cartão”. Não deu outra.

“Esse cartão não foi enviado pelo Voxcards, foi um spam direcionando para outro site.
Já estamos tomando as devidas providências contra o remetente desse cartão.
Pedimos desculpas pelo transtorno (...)”

Esse povo desocupado inventa de tudo.

Você aí, portanto, desconfie dos Otavios sem acento. E dos com acento também (nunca se sabe)...

***


Frente fria


A frente fria demorou, mas chegou ao Rio. Ontem à noite, saímos do teatro e chovia de verdade.

Não penso que seja inadequado isso de os cariocas odiarem chuva, porque a cidade realmente não combina com tempo feio – embora eu ache que a cor do mar, e até as praias, fiquem muito mais bonitas quando está nublado. Mas isso só eu acho... ou quase só.

Enfim, eu gosto do Rio com “frio” (entre aspas, vamos combinar que 18 graus não é frio).

Jantamos. Na saída do restaurante, o manobrista buscou o carro e embicou na calçada, só faltou entrar pela porta do restaurante para que não nos molhássemos. E ainda explicou:

“Senão, pisa na água!”

Taí, vai bem uma gentileza exagerada. Vez em quando, né?

***

Arma


No centro da cidade, de dentro do táxi (parado no engarrafamento, claro), vimos a cena. 3:30 da tarde. Um PM apontava o cano para um homem, suposto ladrão flagrado, e gritava. Até onde vi, não encontrou nada.

Mas eu tenho um pânico danado de arma. Vontade de sumir quando vejo um negócio desses de perto.

***

Blog maluco


Não sei o que há com este blog – sumiram os espaços para comentários. Espero que se arrume sozinho, porque eu não sei arrumar. Blargh, blog!

26 abril 2005

Auto-ajuda: Teoria 3D

Um dia eu vou escrever um livro de auto-ajuda, já disse. Estou criando uma tese para quem quer mudar de vida, dar a volta por cima, sacudir a poeira – e outras pieguices brônquio-fatais. Vocês sabem.

Trata-se da Teoria 3D. A saber:

D-1: Desejo.
D-2: Determinação.
D-3: Disciplina.

Sem esses três pilares, nada feito. Vou explicar, até porque não sei desenhar.

Desejo é quando você aprecia tanto alguma coisa, que instantaneamente se imagina a possuindo. Não, não vale sacanagem, estou falando sério. É quando você, ao vislumbrar uma situação, agarra-se à idéia de vivenciá-la – como diria meu tio – tal qual merda em tamanco. Não desgruda da sua cabeça. Pronto, você deseja.

Determinação é quando você se convence do desejo que tem. Aí está. Não adianta desejar uma coisa agora, amanhã outra, depois esquecer tudo. Esse desejo é desprovido de determinação, ou seja, vai dar em nada. É pura fantasia – e a gente vive disso também, eu sei, eu sei, mas é material para um segundo livro, e não me desconcentraaaaaa!!

Como se vê, estou determinada.

Terceiro e último. Disciplina. Uma vez desejada a coisa, e outra vez desejada a mesma coisa, e outra vez desejada a mesma coisa – ou seja, uma vez determinado o desejo, é hora de ter disciplina. Isso, diacho, é uma praga necessária.

Toda vez que eu penso nessa palavra – disciplina –, minha memória enfadonha vai parar numa sala de aula de mil novecentos e sei lá quantos, com uma professora de educação artística, feia como um raio e chata com um trovão engasgado, a rugir entredentes (não sei como ela conseguia):

- DISCIPLINAAAAAAAAAAA, TURMA!!!!!!!

Aquilo marcou a minha vida. Disciplina era sobrenome de bruxa, ou apelido do cão que aquela senhora acolhia, carinhosamente, no ventre.

Mas hoje eu sei que não é nada disso. É bem pior.

Brincadeirinha. Good news: disciplina é um monstro que se adestra.

No início, o bicho corcoveia e te olha feio. É assim mesmo, não adianta. Mas a origem está num ato de amor: o Sr. Desejo comeu a Srta. Determinação (ops!, perdão da sacanagem), e da barriga dela saiu uma gosma que vai te perturbar a vida. Ou você encara e amansa a fera (com disciplina), ou vai sair dessa frustrado e mal pago.

Eu sei que “ou vai sair dessa frustrado e mal pago” não é frase adequada para se terminar um tratado de auto-ajuda, e que eu deveria procurar imagens mais inspiradoras e coloridas, como purpurinas ao vento - ou outras pieguices brônquio-fatais. Mas penso que a ameaça da frustração pode ser positiva, sim, sobretudo se vier acompanhada de infortúnio financeiro.

A minha intenção, juro, é incentivar o leitor a largar a preguiça de mão e tomar para si a responsabilidade de domar os bichos que o desejo vai parindo pela vida afora.

A menos, é claro, que ache mais confortável terminar os dias choramingando e apelando para o quarto “D”, que não consta na minha teoria, mas se sabe que é o melhor ouvinte para as ladainhas dos acomodados de plantão.

Deus.

21 abril 2005

Uma chorumela


Vem cá, por acaso vocês recomendam este blog por aí?

Bem que podiam começar a recomendar, né? Puxa, eu podia estar roubando, podia estar matando, mas não: estou aqui, escrevendo honestamente (mais ou menos)... pensa bem, pensa bem!


Outra chorumela


A TV está uma porcaria. Não há nada de interessante para ser visto. E as notícias não animam.

Ah, deu no rádio: subiu o cacetinho.

Calma, nem te acende. A gaúcha aqui chama pão francês de cacetinho. E o que subiu foi o preço dele.

Êêê, mente suja...

20 abril 2005

Enquanto ele lia o jornal eu espiei, de soslaio, e vi alguma coisa sobre o conclave. Na hora:

- É hoje a reeleição do Papa, né?

Dá um desconto, please, eu recém tinha acordado...

***

Pensando bem, reeleição do papa não está de todo errado. Imagina. O papa é uma entidade católica, não é? Quem morreu foi o jota pê. Agora entra aquele alemão, que segue sendo - o quê? - papa. Logo, houve nova eleição do papa. Eleição de novo. Do papa. O prefixo “re” significa... senão, vejamos...

(Fiéis em coro: Cala a boooooca, Bíbi!!!)

Amém, pronto.

19 abril 2005

Anos 80 – back to... quando?

Vou te contar. Tô deprimida com essa onda revival anos 80. Me sentindo uma pré-balzaca-atormentada. Revival não era coisa para Jovem Guarda - ele era o bom, meu carro é vermelho, e que tudo mais vá para o inferno?

Brincadeirinha, vai. Podemos voltar aos 80’s, numa boa. O problema não é esse. Problema é que, em geral, escolhem o que há de pior para representar o que houve de bom naquela década.

Não entendo.

***

A minha pessoa


As pessoas poderiam, de uma vez, entender que “a minha pessoa” de cada um é a própria pessoa – o que libera todo mundo de utilizar essa expressão inútil, de cara. Ademais (com perdão da palavra), é muito mico.

A modelo, na TV, dizendo:

- Eu entendo que, por eu ser filha de pessoas famosas, cobram muito mais da minha pessoa que dos outros.

Aqui, filhinha: podia ter poupado a nossa pessoa dessa pérola, não?

***

Moon


Ele achou três sinais - quase eqüidistantes - no ombro dela, e disse:

- Olha as Três Marias!

Ela, no ato:

- Me acha a lua, então... – e riu, desafiadora.

Ele pôs o dedo indicador entre os lábios dela, e começou e desenhar o contorno do sorriso.

- Tá aqui. Crescente.

Ela fechou bem os olhos. E choveu.

15 abril 2005

E por falar em bobagens que a gente recebe por e-mail, recebi um intitulado “Coisa de gaúcho”, com 100 itens atribuídos ao nosso povo. Fiz uma edição e coloquei meus comentários abaixo, entre parênteses. De uma gaúcha que deixou o pampa há 7 anos, a quem interessar possa...

COISA DE GAÚCHO - Escrito por um carioca.

* Ele comenta com você notícias que "deu no rádio".
(Essa eu, de tanto que uso, não entendi. Não é verdade que as notícias dão no rádio?)

* Quando ele conversa, parece uma briga.
(Viu, amor? Eu disse que não estava brigando!!!)

* Às 6 da manhã, mesmo sábado ou domingo, ele já faz barulho com a "chaleira e o mate".
(Ih, só se for nos meus sonhos...)

* Se é gremista, é anti-colorado.
(Claro! Claro!)

* Se é colorado, é anti-gremista.
(De colorado eu me nego a comentar.)

* Acha Capão da Canoa, Imbé e Tramandaí as melhores praias do
mundo.
(Isso não é verdade. Todo gaúcho fala mal das praias de lá – e com razão.)

* Tem a bandeira no RS colada na traseira do carro.
(Sim, tenho!)

* Todo mundo tem apelido.
(Bíbi Da Pieve, às suas ordens...)

* Quando neva em Gramado, faz de conta que já sentiu frio bem
pior.
(Xiii, essa macheza eu já perdi faz tempo. Tremo abaixo dos 18 graus.)

* A estrada que vai para o litoral se chama "Free-Way".
(Claro!)

* "Balada" tem conotação a tiroteio.
(Abaixa a cabeça!!!)

* Tomar um "Balaço" é embriagar-se.
(Iiiiiiiiic!)

* Gosta de comer "bergamota" na cama.
(Na cama não, porque o cheiro é muito forte. Bergamota, para quem não sabe, é o mesmo que tangerina.)

* É apaixonado por cerveja Polar.
(Ô, saudade...)

* Não tem a mínima idéia do motivo pelo qual pão francês é "cacetinho".
(Não sei, mas dá para imaginar...)

* Adora passar o dia em Gramado.
(Sim, claro! E o resto do país só não adora porque fica meio caro...)

* Adora chamar os outros de "fiá-da-puta" - cujo plural é
"fiá-das-puta".
(Hehe, verdade verdadeira.)

* Enlouquece quando é chamado de "filho da puta".
(Claro! Porque FILHO DA PUTA é um desaforo, enquanto fiá-da-puta é um carinho!)

* Acha a Oktoberfest de Santa Cruz do Sul melhor que a de Munique.
(Besteira, é tudo igual: alguém se lembra de alguma Oktoberfest, depois do vigésimo caneco de chopp???)

* Parece íntimo de todo mundo.
(De todo mundo, não. Só dos gaúchos. Os cariocas é que parecem íntimos, de fato, de TODO MUNDO!)

* Sabe de cor o "Canto Alegretense”, “Céu Sol Sul” e “Querência
Amada".
(Oba! Posso começar?)

* Vai pra Factory em São Leopoldo, pra não ser descoberto.
(Essa é ótima, porque eu sou justamente de São Leopoldo, e do tempo em que nem havia ainda a – cervejaria – Factory. Realmente, a cidade fica cheia de porto-alegrenses que não querem ser descobertos. E as gurias de São Leopoldo adoram descobri-los...)

* Chama o Metrô de "Trensurb".
(É Metrô, o nome certo do Trensurb?? Bah, tu vê...)

* Os táxis em Porto Alegre são de uma cor indescritível, e não tem
o banco do passageiro na frente.
(São vermelhos-alaranjados-cheguei, ora, cor de táxi. E sabe por que não tem banco do passageiro na frente? Porque o passageiro vai atrás!)

* Já foi no "Ocidente", no Bom Fim, mas nega até a morte!
(NÃO FUI E NÃO FUI!)

* Tem a mania de falar "Buenas Tchê".
(Essa eu não perdi.)

* Acha que as gaúchas são as mulheres mais bonitas do Brasil – e são mesmo.
(Obrigada, obrigada...)

14 abril 2005

Propaganda de uma pousada (para o feriado):

"Tiradentes cai na quinta-feira. Para comemorar, enforque a sexta."

Hoho.

***

Mandei o sofá velho para o estofador. Quinze dias depois, o sofá voltou - novinho, novinho. E vermelho!

Ontem, batia papo no Messenger com as amigas, e não me continha:

- Posso te mandar umas fotos do meu sofá??? Diz que sim...

As pessoas mandam fotos dos sobrinhos, dos gatos, da filha com roupinha de ballet etc. Eu mando do meu sofá.

Fiz um e-book do sofá. Sofá com almofadas. Sofá sem almofadas. Sofá visto de cima. Sofá visto de lado. Sofá com zoom. Sofá sem zoom. Sofá e poltronas. Sofá com abajur aceso. Sofá sem abajur. Modéstia à parte, meu sofá fotografa bem pra dedéu. Ih, abalou.

Esperem só para ver quando eu colocar as cortinas...
Quanta bobagem a gente recebe por e-mail, não? Não agüento mais aumentar o tamanho do meu pênis, por exemplo. E o trabalho que vai dar, depois, para erguer esse monstro do prazer? Haja comprimido-guindaste. Tô fora.

(Está bem que não tenho pênis. Trata-se de licença poética, meu bem).

***

Estávamos no mezanino do restaurante. Lá embaixo, em mesas separadas, dois casais. Brincávamos de adivinhar a idade deles.

- A morena tem 40. O marido, 40 e poucos.
- Tá doida? Aquele cara tem mais de 50! E ela, menos de 40.
- É, ela pode ter uns 39...
- E ele passou dos 50! Lógico! Um absurdo você achar que ele tem 40 e poucos!
- Pode ter 49...
- Mais de 50. Mais!
- Como é que você tem tanta certeza? É porque é meio careca? É porque está grisalho? Nem dá pra ver direito o rosto dele!
- Cabelo branco no braço. Um homem só tem cabelo branco no braço depois dos 50.

É de se pesquisar.

***

TERÇA INSANA

Passando pela sua cidade, não perca. É um grupo de atores de São Paulo (se bem que reconheci sotaque gaúcho em, pelo menos, duas atrizes) que começou fazendo experimentação num teatro pequeno, depois ganhou mais espaço e agora viaja pelo país apresentando os melhores momentos dos quase 300 espetáculos já realizados. É de chorar de rir.

Os (seis) atores também são autores, e a peça consiste em pequenos monólogos hilários – cada personagem retrata um “tipo” da sociedade atual, carregando na ironia, no humor, na maquiagem, no figurino. Tudo é exagerado, e tudo é bom demais.

Para mais detalhes (inclusive agenda), visite o site oficial.

08 abril 2005

Buenos Aires

Então eu fui a Buenos Aires, cidade que eu não conhecia e pela qual me apaixonei, de pronto, assim que saí do aeroporto e um vento geladinho bagunçou meus cabelos. Nota da produção: “bagunça” gera uma sensação-relâmpago de - ooooops, cadê as coisas, cadê eu? -, e o que se segue a isso é, geralmente, friozinho na barriga (mais) disposição para criar uma nova ordem (mais) ânimo (mais) inspiração (mais) excitação. Ou não! – isso depende do vivente.

De qualquer modo, fui muy feliz ao chegar lá, com “bons ares” – captou o trocadilho? - me recebendo antes mesmo de questionar a minha graça. Gracias! - respondo a tudo, até porque não sei dizer outra coisa em castelhano.


E quantas graças!

E por falar nas graças e nas gracias, quantas praças! Buenos Aires é uma grande praça florida com uns pedaços de cidade no meio. Árvores velhinhas, pero enxutérrimas, abraçam os desavisados, aqui e ali, e não se pode escapar do colo dessas vovós verdes – algumas com lindas pulseiras cor-de-rosa enfeitando e perfumando todo ambiente. Muitas, muitas graças a Deus.


Cafés cenográficos

Inventaram a máquina do tempo, e não me haviam contado!

Entrar num café tradicional, bem no centrão de Buenos Aires, é uma roleta com sinal verde para o passado; até parece tudo de mentirinha. As senhorinhas bebendo chá, os senhores com seus petiscos, os garçons mal humorados... pensando bem, tudo combinava ali. Eu é que entrei de penetra. Uma mulher cenográfica num café de verdade – era isso que eu (não) era.


Pecadinhos

Minha-Nossa-Senhora, como se come bem naquele lugar!!! E barato. O número de padarias, confeitarias, cafés e demais lojinhas pecaminosas que exibem, sem vergonha alguma, quilos e quilos de doces coloridos, cremosos e açucarados nas vitrines – eu disse vi-tri-nes! – é algo impressionante. A gula é um pecado inevitável. Com a graça de Deus, pude cometer outros. Amém.


Não é proibido fumar

Em lugar nenhum. E sabe o que os argentinos fazem? Fumam em todos!

Em ambientes pequenos e fechados, inclusive. O motorista do táxi fumava enquanto dirigia. E não usava cinto de segurança. Aliás, nenhum deles usa. E os carros são velhos, muito velhos. Alguns, caindo aos pedaços.

Cruzar a cidade num táxi é ter a sensação de tê-la cruzado a cavalo. A bunda, eu digo.

Ai, que exagero.


Ai, que exagero! – O Tango

São as influências do tango. Que eu já conhecia, claro, e gostava muito – porque, de tango, ou se gosta muito, ou não se gosta nada. Aliás, é primo da nossa velha e boa milonga dos pampas. Mas eu nunca tinha ido a um show de tango. De modo que aproveitei a virgindade e dei logo dobrado: fui a um show só de música, e a outro de dança. Te mete.

Que delícia, o tango! Um exagero de bom. No palco, um bailarino sacode uma mulher de borracha no ar, e segundos depois ela está firme e tesa no chão, a dividir compassos como quem negocia a vida, como quem decide um amor. Me dá um arrepio gelado; o tango é emocionante. Me dá um calorão súbito; o tango é sensual. Me dá uma sensação de força e leveza ao mesmo tempo.

O vôo da mulher de borracha e o pouso da mulher de ferro – a mesma mulher, macia e contundente, frágil e bruta, flexível e fixa.
Me dá uma baita comoção.
...
Me dá o prazer desta contradança?


Língua

Tá bem, todo mundo arrisca um portunhol. A gente sai daqui certo de que vai abafar. Chega lá, babaus: aquele povo fala muito rápido! Várias vezes, tive vontade de voltar a fita. Algumas vezes, de perguntar – TÁ COM PRESSA? Eeeeeu, hein?

Não ia adiantar nada. O argentino não é muito bom ouvinte; assim como não respeita as faixas de segurança no trânsito (aliás, como nós outros), também atropela as suas pobres investidas – si... pero... como? – e segue falando como se não houvesse interlocutor vivo. Sobretudo se a pessoa for meio tímida, como esta que vos fala.

Melhor é fazer como eu. Disse “gracias”, ininterruptamente, e me senti absolutamente segura com as únicas duas palavras que aprendi em espanhol durante a estada – e que foram suficientes para a minha sobrevivência na Argentina. Mas pronunciei sempre com atitude, não raro com o dedo em riste (juro):

- COCA LIGHT!

O quê?? Precisa ver como me respeitaram.

06 abril 2005

Estive viajando desde a Páscoa. Já estou de volta.
Peço desculpas aos leitores mais fiéis, e prometo fidelidade aos mais relapsos. E vice-versa.
Principalmente, pô!

Já volto. Inspiração não me falta. Falta tempo.
Beijocas apressadas.

26 março 2005

Coelho etc

Eu gosto de Páscoa. Tinha aquele negócio de procurar os ninhos - meus pais enfeitavam caixas de sapato e enchiam de ovos de chocolate, depois escondiam pela casa e punham a culpa no coelho. Era divertido; eu quase não dormia na noite anterior, imaginando que o bicho, distraído, podia não me ver e passar correndo pelas minhas costas – aí eu ia morrer de susto, e o bicho idem, coitado, de nervoso, vai ver até que podia evacuar chocolate em cima de mim. Fresquinho!

E eu, que sou gente, ia evacuar coisa de gente mesmo. Sempre tive a barriguinha sensível para sobressaltos - puxei a meu pai.

Aliás, eis aqui um dado importante que talvez explique muita coisa. Diz-se que, quando minha mãe começou a sentir que eu estava querendo sair da barriga dela, meu pai sumiu e não houve quem o encontrasse nas próximas horas. Foi achado, tempos depois, vigiando a porta de um banheiro público. Se alguém se aproximasse, ele punha a mão no trinco, do lado de fora, e fazia uma cara de quem diz – “está ocupado há hoooooras, haja paciência... tem certeza que vai querer?”

Estava ocupado, nada. Estava era ele com medo de que o sujeito usasse o banheiro por, sei lá, cinco minutos, e aí o azar teria sua chance. Melhor era garantir o lugar vago; nunca se sabe exatamente a periodicidade do, digamos, do nervoso da pessoa.

Chegou a tempo de me ver estrear neste mundo, é verdade. Mas não abandonou o banheiro amigo antes do terceiro sinal.
Dão sei o que foi que eu fiz bara berecer isso

Santo Deus, como chove neste feriado santo!
E eu peguei aquela gripe. Aquela, sabe? Eu espero, sinceramente, que você dão saiba.
Atchim!


Ponto P

É muito bom aquele programa “Ponto P.”, da MTV. A voz da Penélope é esganiçada, o jeitão dela é escancarado, as tatuagens são exageradas, os decotes são... enfim, tudo combina com tudo ali: tudo é over-sexy-plus-a-mais. Hilário.

Para quem não sabe, trata-se de uma espécie de nova versão (sem trocadilho com Penélope Nova) do Erótica MTV. As pessoas ligam para lá pedindo conselhos e dicas sobre sexo. A Penélope foi escalada, sabe Deus por quê, para ajudar os aflitos. E mais atrapalha que ajuda, claro.

Mas hoje eu fiquei com pena de uma moça. 23 anos, nunca havia beijado na boca. Disse que ainda não encontrou um cara legal para namorar, e não está a fim de beijar qualquer um. Penélope não ouviu nem mais um pio. Desandou a esculachar a menina, dó nem piedade.
“Na boa, você não é desse mundo!”
“Você devia entrar, sei lá, para um convento!”
“Porra, você é BV (Boca Virgem), gíria de adolescente!!!”

Sacanagem, isso. No mau sentido.


Dino, eeeeu???

Nunca me esqueço, faz uns dois anos, eu estava em São Leopoldo – RS, minha terra. Encostei o cotovelo no bar e me pus a trocar uma idéia com um guitarrista, amigo de outros carnavais - tocávamos juntos na noite, rivalizávamos entre as bandas, falávamos mal das canções alheias, enfim, essas coisas de músico. O papo estava bem gostoso, até. Foi quando chegou um rapaz, e nos reconheceu a ambos. Apontou com o dedo, admirado:

- Mas olha só, que super coincidência! Dois dinossauros do rock se encontrando nesse bar hoje! Data histórica, hein? Vamos tirar uma foto?

Sorri amarelo, enrugado, desidratado, opaco, insosso. Murchei. O pior (e o que mais envelhece) é o não-poder-dizer.

Camarada, dinossauro é a senhor sua mãe.

Não sei por que me lembrei disso agora. Maldita memória jurássica, a duelar com minhas cosméticas boas intenções. (Será que o creme não compinsa?)


Visita de mamãe

Minha mãe me encoraja a fazer as coisas. Acho que este é mesmo um papel fundamental da maternidade: ao ver que o filho está à beira de um abismo, ajudá-lo a dar um passo adiante. Hoho.

Mas ela em muito me ajuda, é verdade. Ultimamente, tem me estimulado a gastar. Indireta e suavemente, claro, como toda mãe deve proceder. Jogou metade das minhas coisas fora, praguejou sobre as minhas panelas, botou defeito na vassoura, veio abanando a pá do lixo no ar: “isso aqui não presta, filha, põe fora e compra outra!”.

Realmente, a pá do lixo não se prestava a recolher a poeira mais fina. Faz sentido substituí-la, e eu vinha pensando no assunto. Havia meses. Confesso, quase um ano. Mas era um pensamento que ia e vinha, ia e vinha, ia e... minha mãe veio e acabou com a brincadeira. Mãe serve para a gente parar de pensar na pá do lixo. Põe fora e compra outra, pô. E ela diz isso com um desprendimento que só as mães têm.

Para ser sincera, a única novidade na minha casa que mereceu elogio foi uma cumbuca de louça branca... que eu ganhei de presente. Linda, é vero, mas eu não achava outra utilidade – além de fazer molho para saladas, e não sou craque nisso. Nem um pouco. Está bem, meus molhos empelotam. Ou ficam aguados. Ou os ingredientes não se dão bem entre si, não pegam amizade, sei lá, que inferno, não se entrosam – e me perdoem, mas não tenho paciência para discutir a relação com temperos temperamentais e azeites escorregadios!

Pois bem, minha mãe achou umas dez utilidades para a tal cumbuca. Assim, ó, com o pé nas costas. Ê, raiva!

Mas não tem nada. Ainda cresço e apareço, vou bem botar defeito lá na pá da casa dela, vai ver só.

E ainda meto a mão na cumbuca.

20 março 2005

Entrevista

Saiu uma entrevista comigo no site Webwriters Brasil - edição de março.
Para acessar, clique em mim aqui embaixo.

18 março 2005

História de taxista


O motorista desandou a falar feito uma matraca. Contou que, quase 20 anos atrás, foi levar uma cantora famosa (não digo o nome, ando pegando tudo que é gripe, vai que pego também um processo, Deus me livre) até a casa dela, que era aqui no Recreio, e quase morreu de arrependimento. Diz que a mulher bebeu todas e veio aprontando da Lagoa até aqui, passou na gravadora (Barra) e xingou meio mundo, depois xingou a mãe de três policiais que pararam o táxi – e ele, claro, morrendo de medo.

Resumo da ópera: saíram da Lagoa às 3h da tarde, chegaram no Recreio perto das 5h da manhã. Ela o mandava parar em tudo que era boteco, e arrumava uma confusão maior que a outra. Sem contar que fazia xixi na rua, na frente de todo mundo. Váááárias vezes.

Quando, finalmente, ele parou o táxi em frente à casa dela e pensou que tinha cumprido a missão, ouviu o seguinte:

- Seu filho da puta, some daqui e eu não vou te pagar nada!!!

Foi embora. “Queria mais era me ver livre dela mesmo”.

No outro dia, ele teve que passar na gravadora para devolver umas coisas que ela havia esquecido no táxi. Ela estava lá, pediu mil desculpas e pagou a corrida. Umas funcionárias foram consolá-lo, dizendo que ela era assim mesmo. Aprontava todas, bebia fiado, brigava com todo mundo. No dia seguinte, fazia todo o trajeto de novo – pedindo desculpas e pagando o povo.

No fundo, era gente boa.

Trata-se de uma mulher que usava drogas pesadas, como era sabido. Hoje em dia, parou com tudo. Benzadeus.


?Hein?

- Uma coca light e um guaraná diet, por favor.
O garçom vai lá dentro e volta:
- Olha, o guaraná diet só tem do normal.


Chico

Ela veio passar uns dias aqui no Rio conosco. Meu pai, marido atento:

- Cuidado aí com o tal de Chico. Foge desse cara, que ele não tá respeitando mais ninguém!
Hoho.

13 março 2005

Não sei explicar

Mas é muito legal. Clique aqui e confira.

***

Calor tremendo por aqui. Meu irmão disse que, em vez do ônibus, tomou uma van para o centro da cidade. Adorou. Diz que é ótimo ficar ouvindo as conversas das pessoas dentro da van.

Um sujeito fazia o seguinte discurso:

- A pior classe é a classe média. Nunca vi. Comem sardinha e arrotam salmão. Um horror. Tá vendo esses carros na rua? Tudo classe média. Compram carros a perder de vista, sabem que não podem pagar, mas compram assim mesmo. Olha esse, olha aquele outro! Tudo no carnê!!!

E o outro emendou:

- É por isso que eu gosto da morte. Não faz diferença de raça, classe social, cor. Leva todo mundo embora do mesmo jeito.

E esbanjava tal intimidade com “a morte”, quem olhava dizia até que já havia estado com ela.

***

A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite e a chuva que cai lá fora

Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece no quando agora em mim
Cantando eu mando a tristeza embora

(Caetano)

11 março 2005

Sina


A Cíntia me contou que saiu na rua um dia, de bicicleta, e tinha tanta tristeza por dentro que imaginou que as demais pessoas do mundo tinham a obrigação – ela gritava, obrigação! – de consolá-la. O que fazia aquele estranho garoto de dez anos, arrastando um skate, perdido, suado e desgrenhado, que não estava lhe oferecendo colo? Por Deus, ela só queria um colo!, e tinha tanta gente na rua. E nenhum consolo, nenhum colo.

O que é que fazem as pessoas lá na rua, afinal, enquanto a gente sofre aqui por dentro?

Ela saiu pedalando, assim, do nada, por desaforo mesmo. Quero ver a cara do povo numa hora dessas. Quero só ver a cara deles. Quem vai ter a explicação, quem vai me pedir desculpas por estar distraído olhando as árvores – enquanto eu, tonta de ódio, choro, perda, inconformada, insana, tresloucada, doida varrida, eu não consigo sequer desviar os olhos de mim - e, mesmo assim, fixa e obcecada em mim, sigo não enxergando absolutamente nada?

O pior do sofrimento é a cegueira repentina que ele provoca. Some o chão, some o céu, somem as árvores. Sumiu a vida, sumiu a bicicleta. E a Cíntia sofria de uma terrível falta de tato. Coitada, além de cega era míope.

Não achou consolo nas entranhas nem nos estranhos, não encontrou razão, motivo, nem uma pista, indício. Botou a culpa na sina. Sua avó dizia, é sina, tudo era sina, e a Cíntia também tinha essa doença, então estava resolvido, era como um vírus: pobrezinha, está com sina. Que pecado, uma guria tão bonita.

Voltou para casa, às cegas, mal e porcamente tateando o portão, o caminho, as grades, a porta, o cachorro e a caixa de correspondência. Não havia correspondência alguma. Nada correspondia, ninguém era correspondido. Zero.

O caminho era escuro, o cão era mudo, a porta era dura. As fechaduras que a Cíntia nunca soubera mesmo manipular. Não sabia se abrir, não cabia se fechar. Sentou-se então na varanda - à beira da rua e à beira de casa, no meio, onde não é lá nem cá, no quase, no praticamente, no não concluído e nem começado, no caso abortado, na desistência da experiência, ali onde a vida se insinua e se renuncia ao mesmo tempo, egoísta, não oferecendo chance de avanço ou retrocesso aos mortais.

Ali não existia ninguém, e nem poderia, porque ali não há. Ali se aguarda, nunca se parte. Ali já se partiu, mas ninguém pôde provar. Não há rastro, poeira, dor, história. Ali se anestesia, e só.

Ali a Cíntia encontra paz.

E as pessoas da rua nunca mais a viram por lá.

10 março 2005

As pontas do tempo


Vieram muitas coisas à minha memória nesses dias. Sempre tive a sensação (ilusão? - eu gosto igual) de que, em determinados momentos da vida, as pontas dos lençóis vão se encontrando - e a gente vai dobrando o tempo, aqui e ali, unindo passado e presente num só gesto, numa só reflexão, sacada. Às vezes, num só golpe.

Mas tudo isso é fazer a cama dos dias. Não importa se mais ou menos doces, mas dias, dias e dias – é o que temos por aqui.

Em alguns dias, parece que a coberta encolhe a ponto de se tornar um lenço - e aí se aproveita para chorar. Noutros, sentimos como a navegar por lençóis d’água tão imensos, tão frescos e tão macios, que nos resta relaxar e gozar o balanço. Sem questionar a estrutura da cama, se há cama, se há guarda, se há chão, céu, qualquer porcaria que se crie para submergir de um sonho bom. Épocas de lençóis d’água, das quais herdamos memória aquática - aquela imagem sutil, azulada, tenra, difusa. Bêbada. Algumas coisas eu nem sei se aconteceram de verdade, em qual verdade se deram, em qual colchão ou espuma de realidade. Mas juro que vivi.

Unir as pontas do tempo é lembrar uma fantasia de infância, sem pé nem cabeça, que um dia então inventa de cair – cabeça, pé, corpo, saias, rendas e babados – na sua fase adulta, na maturidade, na velhice. Você arruma um emprego qualquer e o lençol apresenta suas pontas: cai uma pluma do passado no agora, e o barulho produzido é coisa que não se explica. Se apavora, se estranha, se reza, se benze, se admira e se convence. Ou não se convence. Mas a cama vai se fazendo igual, independente da crença.

Eu já me peguei tropeçando nas minhas tranças de menina. Desavisada, achei que eram cobras. Atrevida, quis matar no tapa mesmo.

Só percebo
que são as pontas do tempo
quando abro o berreiro
e não sei mais se sou
a mulher
que chora pelo medo das cobras que não morrem
ou a menina
que chora pela dor dos tapas que não matam.

08 março 2005

Felicidade:
O quadro perfeito
sem a moldura

Às vezes espalha
por tudo

Às vezes escapa
por nada.

03 março 2005

Estou digitando direto aqui na página do Blogger, sem editor de texto e num teclado estranho. Perdoem qualquer letra trocada, please.

Chove sem parar aqui no Rio. A temperatura baixou um pouco, chegou a um nível em que a gente até consegue variar um pouco o pensamento. Nos último dias, vinha pensando uma palavra só: quero-me-atirar-num-poço. Ponto final.

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Vocês viram o Oscar?

A moça do Titanic (que também fez o ótimo "Bilho eterno de uma mente sem lembranças"), vestido e olhos azuis, era a mais bonita do fandango. (Fandango é melhor que "cerimônia", não é? Mais animado).

Johnny Depp tenta fazer o tipo estiloso, coitado, mas acaba ridículo mesmo. Julia Roberts continua linda, e não dá sinais de desistir. No DiCaprio eu não vejo qualquer graça.

Al Pacino, ô, envelhece bem.

Melhor ator para Jamie Foox (Ray Charles), achei superjusto.

01 março 2005

Saudade


Não essa saudade de longe, de um passado remoto, da infância, dos doces, das mãos macias da mãe na nossa testa conferindo a febre. Saudade de perto. Saudade só de rosto, saudade preto e branco e 3x4.

Saudade do que se viu no espelho do banheiro um dia desses - num desses dias que não sabem se vestir conforme a idade que têm: pernocas de fora, teimam em parecer eternamente ontem.

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Agarrou


Não sei de outros estados, mas o carioca diz uma coisa muito engraçadinha que é “agarrou” – para quando alguma coisa ficou presa, trancada, mesmo enguiçada em alguns casos. Então, diz-se:

- Ih! Cuida ali, que o portão ficou agarrado...
- Abre o vidro (do carro), que o cabelo dela agarrou na janela!
- Puxa com força, que essa porta é assim meio agarrada mesmo...

No RS, agarrar é muito mais usado em casos onde o sujeito é um elemento humano; ou, pelo menos, um ser vivente. Dois namorados se agarram. Vá lá, o cão agarra a cadela também. Mas, esse negócio de porta agarrar, primeira vez que vejo é aqui no Rio.

Minto. Minha avó (gaúcha) já dizia:

- Fulano era um baita vagabundo. Foi a mulher engravidar, ele garrô a trabalhar feito um cavalo!

Mas aí não é agarrou. É garrô. E tem o cavalo, né.

Enfim, regionalismos.

24 fevereiro 2005

Pazes

Voltamos às boas, o servidor e eu, como podem notar. Sempre por intermédio de amigos, claro, porque eu não converso diretamente com ele. E – devo dizer - muito menos ele comigo.

***

Da Conceição, minha manicure predileta, que voltou a trabalhar no salão – não o meu predileto, mas o mais próximo:

- Negócio é o seguinte, dona Bíbi. Quando eu amo, eu amo. Quando eu odío, eu odío!

***

Olha a folga do cara da farmácia. Fui pagar uma vitamina C e uma pasta de dente. Ele, animado:

- A senhora é assinante do jornal O Globo?
- Sou, sim.
- Está com a carteirinha aí?
- Estou. Tem desconto, é?
- 12%, senhora. Não é legal?
- Muito.

Enquanto ele mexia no computador, observei que havia também desconto para segurados do Bradesco Saúde.

- Tem também desconto para o Bradesco Saúde?
- Ah, tem sim, mas é só para alguns medicamentos.
- Vitamina C, não?
- Deixa eu ver aqui... olha, tem! E o desconto é ainda maior: 20%! Olha que máximo!

“Olha que máximo”. Tá bom.

- Não quer aproveitar e levar mais uma, senhora?

Caí na cantada dele. Aceitei mais uma vitamina C. Pra quê? Parecia que eu tinha aceito um drinque num barzinho de beira de estrada. Ele era só sorriso. E tinha um par de dentes da frente que, por Deus, ofuscava o resto do elenco. Quase as finadas torres gêmeas. Eu só queria ir embora dali.

- Já viu o nosso catálogo? Tem muita coisa com desconto...
- Obrigada, mas estou com um pouquinho de pressa...
- Ah, vai! Dá uma olhadinha!
- Realmente, preciso ir.
- Os protetores solares estão suuuuper em conta. Você gosta de ir à praia?
- Eu? Com essa cor? Tá bom.
- Eu reparei! Com essa pele branquinha, tem que se proteger...

Aí eu não agüentei, e baixei o tom da voz (em uma oitava):

- É. TENHO QUE ME PROTEGER MESMO. TCHAU, MOÇO, TCHAU.

E vim-me embora, me protegendo da vontade de detonar o casal de protagonistas daquela arcada dentária mal projetada. Ele ia ver o que a minha mão branquinha fechada seria capaz de fazer na fachada odontológica dele.
Ah, ia bem ver.

***

Socorro. O Barrashopping está in-tei-ro em liquidação. Pena que a moda verão é/foi tão coloridinha-floridinha-viadinha-sandalinha-rasteirinha-vestidinho-esvoaçante-rosinha-azul-bebê. Passei só olhando as faixas: “60% OFF”.

Estou 100%.

***

Minha faxineira saiu daqui indignada, que não sabia o que estava havendo, se era a cera ou o quê: a ardósia tinha ficado toda marcada. Das pegadas dos meus tênis, aliás.

Dona Leida – eu tive vontade de dizer -, se a senhora não tivesse me avisado, eu jamais teria percebido. Marcas? Pra mim, tava um espelho.

Ando mesmo precisando ir ao dermatologista.

16 fevereiro 2005

Testando. Problemas. Testando. Um. Dois. Alou.

15 fevereiro 2005

Trabalho sujo
* da série: nós não vale um avulso, mas se ama de balaio.

Estamos olhando um daqueles programas de “transformação” (antes e depois) de um canal a cabo. Aparece a mulher sendo transformada. Maquiagem. Cabelo. Roupas.

De repente, entra uma imagem dela “antes”. Meu irmão olha, compenetrado. Suspira lento, e reflete:

- É... alguém tem que fazer o trabalho sujo.
Insônia em 15 marteladas


1. Deram para fazer obras no apartamento vizinho. Começam às 9h da matina. Todo dia. Sábado incluso. Show de bola.

2. Fui jogar o lixo no duto hoje, e dei uma espiadela para dentro. Estão derrubando é tudo. Vai sobrar pouco. Olha, nota 10.

3. À tarde, não bastassem as marteladas – que deveriam produzir um efeito relaxante, ao menos neles -, deram para brigar. Bem alto. Um se pôs contra o outro, a gritar.

4. “TU AGORA VAI MANDAR NI MIM? VAI MANDAR? TU AGORA É QUE VAI MANDAR NI MIM, É ISSO???” (Furioso, o do ni mim. Do outro – aquele que, supostamente, mandava - não ouvi palavra).

5. Fiquei aqui bem quietinha, com medo do pior.

6. E o pior se sucedeu. Ou seja, ninguém matou ninguém, e a destruição das paredes prosseguiu. Na mais perfeita paz.

7. Mas podia ter sido diferente. Tivesse o Mandão Mudo alterado – ou sequer emitido! - a voz com o Gritão Ni Mim, quiçá eu acabasse testemunhando uma tragédia grotesca. Martelo em punho, um ofendido Ni Mim estraçalharia a cuca do colega Mandão (agora Fônico, ex-Mudo), dó nem piedade, até que o sangue do atrevido se misturasse à tinta amarelo-manga cuidadosamente selecionada pelos...

8. Cruzes! A propósito, quem foi que escolheu essa tinta???

9. Não vem ao caso, deixemos o mau gosto de lado. Eu contava sobre a sangueira do Mandão (maldita boca!) esparramada pela ardósia do vizinho, atacado que fora pela mão nervosa do parceiro Ni Mim – a essa altura, já ex-parceiro, uma vez que vivo não trabalha com morto; ou, ainda, no caso do Mandão ser do tipo que agoniza-mas-não-faz-a-passagem, na certa não ia mais querer Ni Mim a martelar tão perto.

10. Fosse eu, não ia querer.

11. Tragédia por tragédia, melhor completa. Vamos que Mandão morra. Ni Mim vai preso, e, na cadeia, desprovido de ferramentas para quebrar tijolos e/ou abrir cocos, acaba também se desapegando desses conceitos rígidos - ni mim ninguém manda, ni mim ninguém isso, ninguém aquilo. Com o tempo, esquece.

12. Mas fica o apelido: Ni Mim. Um dia, a psicóloga da penitenciária pergunta se ele guarda alguma mágoa, ou se lembra quem lhe deu tão ímpar codinome. E a ferida se abre outra vez.

13. “Foi a mulher do 103. A metida que me dedurou. Por isso estou aqui.”

14. Comecei a escrever esta merda de madrugada. Agora mesmo é que não durmo mais.

15. E o pior é que as obras começam às 9h. Em ponto.

10 fevereiro 2005

Closer – Perto Demais
Com: Julia Roberts, Jude Law, Natalie Portman e Clive Owen


Vocês assistiram?

Eu gostei muito. Bom texto, boas atuações, ótima música. Desconcertante em alguns momentos, cruel, sensível, sobretudo: curioso.

Um nó na garganta se instala logo no início, com uma palhinha da balada “The Blower´s Daughter” - do irlandês Damien Rice -, e termina quando sobem os créditos, com a execução da canção inteira.

Me chamou a atenção, e fiquei curiosa para ouvir mais Damien Rice. A música é triste e bela; é despretensiosa, mas o cantor parece honesto e não tem vergonha de soltar a garganta em certos momentos – diferente daqueles vocalistas depressivos-por-encomenda que a gente está cansado de ouvir desde os anos 90, e que se proliferam, cabelinho de recém-acordado, entrevistas para a MTV com aquele tom aborrecido, pés para cima, tipo: estou no sofá da minha sala e minha mãe me traz torradas quando eu grito.

Para isso, não tenho saco. E não tenho filho desse tamanho – por mim, morre sem torrada.

Não conheço Damien Rice, mas a primeira impressão foi boa. Se alguém tiver curiosidade, pode ouvir “The Blower´s Daughter" aqui (clique para entrar no site do filme, depois procure a música - embaixo, à direita).

04 fevereiro 2005

Folia


Passando por aqui para desejar boa folia aos foliões, e boa folga aos (ops!) folgados.

Eu sou da ala da folga. Gosto de sono espichado, conversa arrastada e calça caindo.

Conto um causo. Teve um carnaval aqui em casa, há uns dois ou três anos, que decidimos “cair na folia”. Sim. Apelidamos os nossos colchões de “folia”. Jogamos a folia toda no chão da sala, compramos litros de sorvete e caímos de boca.
Foi um sucesso.

Ano passado, contudo, inventei de ir ao famoso baile do Scala. Não tinha a menor graça morar no Rio e nunca ter ido ao Scala. Adorei, claro. Mas paguei muito caro, explico: a exagerada aqui foi com um salto deeeeesse tamanho, e pulou a noite toda. “Quicar” seria a palavra exata – sambar, não sambo, me falta talento. No dia seguinte, minha coluna - que já não andava nada boa - deu sinal de que ia pedir demissão.

Fui ao médico, e o diagnóstico me tirou do salto: hérnia de disco. Puxa, como isso maltrata a pobre foliã... judiaria.

Portanto, neste ano não estou para briga. Não me chamem, que eu não vou!

Prefiro manter a hérnia sob controle e os dois pés firmes no chão. Sempre no salto, claro.

Que nóis enverga mas não quebra!
Big Mac

Eu sei! Eu sei que vocês estão cansados de passar por aqui e encontrar, em vez de croniquetas engraçadas do dia-a-dia, um ou outro poeminha-fast-food (com a diferença de que ninguém aqui pediu pelo número, mas eu jogo no balcão mesmo assim). Eu sei que vocês estão fartos da minha comidinha sintético-literária. Mea culpa.

Minha sorte é ter cultivado amigos leitores - e leitores amigos - que voltam, faça chuva ou faça sol, ainda que eu não mereça. (Bolero ao fundo - fade in).

Ah, eu sei que vocês voltam. Meu contador denuncia. Almoçam em outros restaurantes, mas dão uma passadinha aqui para o cafezinho. E ainda saem sem fazer barulho, para não me acordar.
(Bolero – fade out. E sobem os créditos).

***

DVD

Diquinhas de filme? Estou um pouquinho atrasada com os lançamentos. Os últimos dois que eu vi (e valem a pena!) são:
Cold Montain – com Nicole Kidman e Jude Law, ambos em brilhante atuação. Drama de amor e guerra, filmão, não percam.
Sobre Meninos e Lobos – suspense barra pesada, com Sean Penn no papel principal. Aplausos mil.

***

Cinema

Faz tempo que não vejo algo realmente empolgante. A continuação de Onze Homens e um Segredo (que eu adorei), Doze Homens e Outro Segredo, vale pelas “estrelas” e pela trilha sonora. Pouco mais do que isso. Meu irmão observou: as tomadas também são muito bem feitas. Vá lá, é verdade. No mais... menos.

Outra experiência pouco feliz foi Os Sonhadores – o último do Bernardo Bertolucci. Aí vocês vão me desculpar, porque eu sei que não pega bem falar mal de filme do Bertolucci, mostra que a pessoa... bem, não sacou a poesia. Para dizer o mínimo.

E eu não só não saquei a poesia, como achei o filme chato, aborrecido. Diálogos do tipo “para causar efeito”, frases jogadas como quem dá uma cartada. Dois meninos pelados e uma menina peluda – pelada -, num jogo sexual que até podia ser interessante, do ponto de vista psi-qualquer-coisa, mas, sorry, ficou muito aquém. E olha que não sou de usar “aquém” gratuitamente.

Várias citações do cinema (uau, clássicos!) funcionam como uma piscadela cúmplice para o expectador cinéfilo, que aí se identifica total. Para completar – já ia me esquecendo -, o filme é sobre o famoso maio de 1968 em Paris, protestos estudantis etc. Outra coisa que funciona. E a trilha é recheada de estrelas do rock dos anos 60. Funciona.

No fim, é muita coisa que funciona - que quer mostrar, que quer dizer, que quer chocar, que quer... o filme quer muito.

Nada contra querer, mas o resultado final não me pegou – nem pela poesia, nem pela crítica, nem pela garganta, nem pelo sexo... Não bateu.

Ou vai ver que eu não peguei, sabe, a poesia.

***

Livros

* Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século

Eis um livrinho fofo, de bolso, que o escritor Marcelino Freire teve a boa idéia de lançar e fez bonito. Nele, 100 escritores foram desafiados a escrever “algo relevante” de até 50 LETRAS. (Isso mesmo, 50 letras!).

O resultado é uma delícia. Você abre em qualquer página e se põe a aperitivar pequenas pérolas literárias contemporâneas – despretensiosas, bem humoradas, e, sobretudo, enxutas.

Tem Millôr Fernandes, Adriana Falcão, Xico Sá, Glauco Mattoso, Márcia Denser, Moacyr Scliar, Fabrício Carpinejar, Jorge Furtado... (e mais 92, naturalmente).
Podendo, comprem!

* Benditas sejam as moças: As crônicas de Antônio Maria – organização: Joaquim Ferreira dos Santos

Mas eu ando enamorada é do Antônio Maria (1921 – 1964), com esse livro de crônicas que é uma aula do gênero – quase todas dos anos 60, publicadas no Última Hora, mas atualíssimas. Pelo jeito, ele era mesmo uma figura. Olha só o que eu tirei do site Releituras, sobre o próprio:

(...)
Carlos Heitor Cony dizia que se o autor fosse mandado para cobrir a posse do papa, voltaria cardeal.

Cony conta: "Um dia, Maria me telefona: — Carlos Heitor, Carlos Heitor, você nunca me enganou." Disse então que, vindo de São Paulo, viu no avião uma mulher linda lendo o livro Matéria de Memórias, de Cony. Aproximou-se, se apresentou como o autor do livro, e a mulher, uma típica apaixonada, acreditou. Pintou para ela um quadro bastante dramático: era um desgraçado, que nunca tinha tido sucesso, que as mulheres o abandonavam. "— Mas, Maria..." era tudo o que o espantado Cony conseguia dizer. "— Fica tranqüilo, Cony, fica tranqüilo porque em seguida nós fomos pra cama. Ou melhor, você foi pra cama." E Cony, curioso: "— E ai?" "— E aí foi que aconteceu o problema" — gargalhava Maria. "— E ai você broxou, Cony, você broxou!"

02 fevereiro 2005

Singela

Tinha, na vida,
necessidade singela:
uma janela com vista pro mar
um homem com vista pra ela.

22 janeiro 2005

1 X 0

Então ele vinha
E me cochichava:
Sentia a minha falta.

(que modéstia –
eu apito!)

Falta
Ao pé do ouvido
É pênalti.


2 X 0

Então ele chutava
Minha cor preferida
Acertava
Meu prato
Acertava
Meu filme
Acertava
Bebida
Acertava
Carinho
Acertava

Parou na minha frente,
Ajeitou,
Concentrou,
Bateu.

Abri bem os braços
Errei o canto
Aliás, nem pulei
Não deu.

15 janeiro 2005

O sangue era de Patrícia


O elenco do meu salão de beleza favorito entrou na guilhotina: rolou a cabeça da minha manicure-nota-dez, Conceição, eu me lembro muito bem, uma negrona alta de traços belíssimos e cachos aplicadíssimos – do tipo olhando-ninguém-diz.

Que judiaria.

Mandaram embora também outras tantas, simpáticas, risonhas, um pouco indelicadas, é verdade, mas ninguém é perfeito. Indelicadas no trato, eu digo. Porque, no alicate – vamos ao que interessa -, eram todas muy competentes. Bife meu, ninguém jamais arrancou ali.

Hoje, mudado o time, tive o prazer de estrear uma novata. De nome Patrícia. E foi só o que ouvi dela durante o serviço todo; ainda assim, depois de muito esforço.

- Como é o seu nome?
- Patrícia.
(Sabe a pessoa que fala para dentro? Impossível ouvir).
- Hein?
- Patrícia...
(Agora, para dentro e com a cabeça baixa).
- HEIN??
- Patrícia.
(Corou. Que meigo. Enfim, ouvi o nomezinho da moça).

- Prazer, Patrícia, eu sou a Bíbi.

Mas ela nem tchuns pra mim.

Patrícia Hein?, para meu desespero ainda maior, levou uma hora e quinze minutos para fazer a minha mão. Eu bufava, sonolenta e quase criando remelas, quando ela foi ao pé.

Duas horas depois de eu ter sentado à sua frente (juro!), Patrícia finalmente terminava o serviço. E eu abreviava aquele tormento quanto podia:

- Deixa só a base, só a base mesmo. Tá óóótimo.

Aos 45 do segundo tempo, a pobrezinha se vê nervosa e fura o próprio dedo com o alicate de cutícula. E jorra sangue de Patrícia por tudo.

Então ela abre a boca, mais constrangida ainda:

- Desculpe... a senhora me desculpe... o alicate estava muito amolado, sabe como é... a senhora quer que eu pare? Não, por mim continuo, não dói nada. Eu termino rapidinho. É que tem gente que não gosta de sangue, digo, de quando sai sangue, né. Eu termino, nem dói.

Depois de perguntar se ela tinha certeza que não queria fazer um curativo (o sangue nem era tanto, e não encostava em mim), deixei que terminasse o serviço – que, afinal, já estava quase pronto mesmo.

- Só queria pedir, assim, se a senhora não se incomodasse... que avisasse à moça da recepção, na saída, que eu me cortei, e sujei a toalhinha de sangue, mas foi com o meu sangue, não o da senhora... isto é, que eu não machuquei a senhora, né... senão elas podem pensar... e eu comecei ontem no salão, sabe como é...

Claro, claro, sei como é.

Na saída, fui até a recepcionista – uma loura hiper-extra-maquiada que me olhava com dificuldade enquanto eu falava, como quem faz esforço para entender, sei lá, Sartre.

- ... então... o sangue é dela, não é meu.

Ela franziu a testa, e coçou a barba (ops!).

- Entende? A manicure pede para avisar que o sangue que está na toalha é dela...

Parece que caiu a ficha...

- Aaaaaaaaahhh! Sim...

... mas não caiu:

- Tudo bem, está avisado. Mas, também, se o sangue fosse da senhora... (faz uma cara de “não nos incomodaríamos, não somos preconceituosas, a senhora deixa o seu sangue onde quiser, não nos importamos”.

- Ok. Bom 2005 pra você.

11 janeiro 2005

Preferências


Dos dentes,
os da frente.

Dos defeitos,
Os visíveis.

Dos vícios,
Os indecentes.

Dos versos,
Os indizíveis.

Das cruzes,
As portáteis.

Dos credos,
Os mutáveis.

Das armas,
As esquecidas.

Das guerras,
As vidas.

09 janeiro 2005

A mãe fora

Descobri que este blog perde um pouco o sentido sem a minha mãe.
Volta logo, mãe!!!

Ou acha um cyber-café e vem me ler - entre uma bronzeada e outra. Hoho.


A mãe dentro

Minha mãe inventou uma brincadeirinha – e, como toda mãe que se preze, viu-se escrava dela em poucos dias. Era a brincadeira do “com o que é que parece”.

- Manhêêê! Diz com o que é que parece!!!

Foi assim. Um belo dia, tentando nos convencer a ir para a cama, ela anunciou: vistam o pijama e vão para a cama, que depois a mãe vai lá dizer com o que é que parece.

- Como assim???
- Vou dizer com o que cada um de vocês se pareceu durante o dia!

Uau! Nos empolgamos e vestimos o pijama, pronto, mãe, vem dizer com o que é que parece! E ela veio mesmo.

Disse que eu hoje pareci com uma coruja, sábia, concentrada – pois tinha passado o dia “estudando” (eu tinha uns 6 anos, aprendia a ler e rabiscava coisas ininteligíveis num bloquinho qualquer). O mano, por outro lado, tinha se parecido com uma formiga. Trabalhara duramente, ajudando o pai na organização das compras do mês.

Noite seguinte, a mesma coisa. Mas não valia repetir bicho (criança é exigente, você sabe).

Eu era uma cantante cigarra; o mano era um cão amigo. Eu era um dócil cordeiro; o mano era uma lebre veloz. Eu era um bicho-preguiça.

- Bicho-preguiça, mãe???
- Sim, senhora! Não fez nada o dia todo!!!

Sim, valia ralhar na brincadeira (mãe é implacável, você sabe).

Um dia ela ameaçou encerrar a brincadeira.

- Hoje é o último dia!
- É nada!!! (Em coro).
- É sim!!!
Beiços inconsoláveis. Fazer o quê. Se a mãe diz. Pijama. E cama.

- E então? Hoje parece com o quê??
- Hoje não parece com nada.
- ???
- Parece com nada! Não era o último dia? Então! Não parece com nada!
- Como assim, COM NADA???

Ela ficava nervosa, encabulada. Engasgava.

- Vocês são meus filhotes lindos, é isso. Não se parecem com nada, com bicho nenhum. Hoje é só pra dizer que eu amo vocês, que vocês são a coisa mais linda de mamãe, que eu tenho o maior orgulho de vocês, que nem mesmo a selva inteira seria bastante para representar quantas qualidades vocês têm, quantos carinhos vocês me fazem, quantas alegrias me dão. Nem sei o que dizer, olha, estou emocionada aqui. É que vocês são... su-pim-pas!!! E durmam bem.

E beijou a nossa testa, apagou a nossa luz, fechou a nossa porta. E saiu, de mansinho (mãe sai de mansinho, você sabe).

Cinco minutos de reflexão, no escuro. Um de nós quebra o silêncio.

- Ela não sabe o nome de mais nenhum bicho.
- Que nada, é má vontade mesmo. Tinha um monte, ainda.
- Tinha mesmo, eu sei...
- Pato, por exemplo. Pato já foi?
- Pato não foi.
- Sapo foi?
- Foi nada.
- E rato?
- Ui, rato é nojento!
- Tá, sei lá... mas é melhor que SUPIMPAS, não é?
- Ah... é, deve ser.

07 janeiro 2005

Coisa de mulher


Acho que esse calor que tem feito é uma coisa medonha, mas tem, sim, um lado feminino muito forte. E não estou falando de bundas e peitos à mostra. É outra coisa, muito mais sutil.

Quer uma imagem?

A mulher, com calor, prende o cabelo pra cima de qualquer jeito – com uma caneta, com um grampo, o que tiver pela frente. Fica aquele coque meio despetalado, improvisado; isso é feminino até o último fio. A gente sabe. Brincava de prender o cabelo assim quando estava sentada à frente do coleguinha mais bonito da turma. Sim, seduzir é isto: brincar de hipnotizar o coleguinha.

Algumas vezes na vida gente lembra que é mulher. E não é só na hora do trabalho pesado – depilação, exame preventivo, parto etc -, não. É também quando você se percebe leve como uma pluma, independente da densidade do ar. Do nada, cai na sua testa um cacho delicado que balança, e isso balança o coleguinha, que acaba balançando você de volta.

Lidar com a leveza feminina é uma delícia.
E, quase sempre, é também dureza.

06 janeiro 2005

***1 utilidade

Apareci, depois de muito tempo sumida, numa festinha entre amigos. A primeira amiga me avistou, e logo foi cumprimentando:

- Uau! Coisa mais boa te ver!!

Logo fiquei inchada.

- Ora, obrigada! Eu andava mesmo sumida...
- Verdade! Andava sentindo a sua falta!
- Jura???

E ela esclareceu:

- Juro! Até ontem, eu estava mesmo pensando que era a mulher mais branquela da turma; estava morrendo de vergonha! Não sabe como eu fico feliz em te ver! Me dá um alívio...

Tá bom.
A gente sendo útil para alguma coisa...

03 janeiro 2005

O Tempo

Quando passo a passo
É dança
Quando horas a fio
É trança
Quando em cima do laço
É pressa
Quando menos se espera
Criança

- Espera, tempo!
Apito.
- Espera, tempo!
Repito.
- Espera, tempo!
Insisto.

(O Tempo é surdo)

Desisto.

Levanto
E saio
Passado

Sento
E espero
Futuro.

02 janeiro 2005

Viramos (outra vez)


E então viramos. Quis passar aqui e desejar boas viradas a vocês, mas acabei virando antes, desculpem a minha gafe.

Virei 2004 de ponta-cabeça, agradeci a uns anjos - graça, bênção, flores no caminho etc. Em agosto, mês do cachorro-louco, virei foi o pé. No meio-fio. Fui ao chão mesmo; rompi ligamentos e me desliguei da vida uns 15 dias. Sabe que foi bom? Virei um pouco melancólica, um pouco reflexiva, pé para cima, cabisbaixa. A gente se vira como pode, né.

Em compensação, passada a virada do pé, veio a primavera. Achei até umas flores pela rua, e já virei um perfume goela abaixo. Mania de não saber contar gotas!

Veio outubro, viramos, passou novembro, viramos, e dezembro já vem meio virado. Pronto, viramos o ano outra vez.

E eu sigo achando que o mais interessante em virar as páginas não é propriamente o livro, mas aquilo que a gente vai virando depois da leitura.

Boas viradas, então, e que cada um vire aquilo que for mais divertido virar.
Beijos!

28 dezembro 2004

Grosso mesmo


Essa é da coluna do Ancelmo Gois, no Globo de hoje. Diz que uma churrascaria do Méier espalhou pela cidade um outdoor com a seguinte pérola:

“Você come o lombo e nem precisa mandar flores depois.”

E outra:

“Maminhas suculentas sem uma gota de silicone.”

E o nome da churrascaria: Sal Grosso.

***

Tum-tum no peito


Minha amiga não sabia identificar o som do baixo, e me pedia ajuda. Ajudei: o som do baixo é aquele que a gente sente no peito, o grave, tum-tum...

Ela aprendeu tão bem que, anos depois, casou-se com um excelente baixista carioca.

E vivem felizes para sempre. Porque o amor é assim; uma coisa gravíssima e cheia de escalas (mas a gente se diverte mesmo é no improviso).

24 dezembro 2004

FELIZ NATAL



Aos leitores fiéis (e aos infiéis!) deste blog, e a todos que passarem aqui por acaso, um ótimo Natal - cheio de paz, amor e inspiração!

Beijos da
Bíbi

23 dezembro 2004

Ho Ho Ho & as batinhas do verão


Muita chuva na cidade. O Barrashopping, na véspera da véspera, abarrotado daqueles que deixam(os) tudo para a última hora. Comprei coisinhas rápidas, que funcionam.

Dei uma olhada nas lojas, que ninguém é de ferro. Batas e mais batas. As mulheres agora só usam batas. As mulheres se acotovelam por batas baratas. Batas de malha, batas tomara-que-caia, batas brancas para o reveillon, batas com nós, flores, frufrus e afins. Batas pontudas, batas transparentes, batas sensuais, batas, batas.

No meu tempo, bata era roupa de grávida.

Nada, nada mesmo contra as batas. Até tenho algumas. Eu tenho uma bata tomara-que-caia, preta, com uma borboleta prateada bordada na frente. Quer mais?

Eu uso.

O problema das batas de hoje foi o seguinte: andei, andei, andei e não achei nenhuma que me inspirasse. Até que, já quase desistindo, avistei lá no canto de uma vitrine a minha batinha do coração - a que me conquistou, vupt!, certeira, implacável. Eu era dela.

Não sei explicar. Era fashion, coloridona, amalucada e tinha um corte ousado. Uma bata moderna e romântica ao mesmo tempo. Vermelha, puxando para o borgonha. Daquele tecido que parece que já vem amassado - e vem mesmo. Um show de bata.

Babando, fui pegar na etiqueta para conferir o tamanho. E conferi. O tamanho do rombo no meu bolso: R$ 260,00!

Na vitrine estava, na vitrine ficou. Bem feito; é para aprender a não quebrar o coração dos outros.

Como diria uma amiga: Eu, hein? Com R$ 260 eu compro um marido!

***

Espeta um broche!


Ah, sim, e agora deram de usar broches de novo. Que é chique. Tá com uma blusinha básica? Espeta um broche, que vira descoladérrima na hora. Cria um look!

E a ala-sem-talento - cá pra nós -, como é que faz? Sim, porque até para espetar um broche numa camisa branca há que se ter um certo talento.

Estive hoje com meia-dúzia de broches na mão. Pareciam lindos, depois pareciam sapos fantasiados para o carnaval, depois pareciam lindos outra vez, depois... saco!, eu não saco de broches. Nem de sapos. E muito menos de carnaval.

Larguei aquilo tudo no balcão e saí correndo, ninguém entendia. Fugi dos broches como diabo da cruz. E uma vozinha na minha cabeça repetia o texto de uma estilista de sapatos (eu disse sapatos!), outro dia na TV: “É só saber brincar! Olha essa sandália, sem o broche, e agora com o broche. Você tem duas sandálias em uma!!!”.

Estão espetando broche em sandália, e fazendo virar duas?

Aaaai, que saudades do tempo em que não se precisava pensar muito... porque a Melissinha já vinha com a pochetezinha, e estava tudo assim resolvido.

19 dezembro 2004

Vestido

Mariana elegeu um vestido
e saiu pela rua
Não tinha caminho
Não tinha destino
Mas tinha o mais importante
Ora, o vestido.

Mariana chegou na esquina
E de vestido sorriu
Rodado
E de vestido sonhou
Florido
E de vestido amou
Rendado.

(Isso que ela só tinha ido dar uma voltinha)

18 dezembro 2004

Webwriters Brasil

Acabo de saber que saiu um editorial, no site Webwriters Brasil, a respeito de como entrei na revista Época. Agradeço ao Alex Gennari, autor do texto, pela lembrança e gentileza.

A chamada de capa começa assim:

No editorial de dezembro, o Webwritersbrasil elege uma nova escritora como ícone na luta de novos autores (webwriters, roteiristas e escritores) por espaço nos grandes veículos de comunicação e editoras: "É mais fácil um editor podre de rico chegar ao reino dos céus do que um novo autor brasileiro conseguir espaço na mídia e no mercado editorial. Dizem que a justiça divina tarda, mas não falha. Pois a justiça deu o ar de sua graça no reino dos homens no último mês de agosto, protagonizando um singelo conto de fadas na literatura brasileira."

Quem quiser conferir a matéria na íntegra, clique aqui.

16 dezembro 2004

Meio cafona

É sempre assim. Chega essa época do ano, a cidade fica perua. Luzes, laços, fitas, bolinhas, arranjos – tudo junto, gritando. Reparou, não?

Até tolero esses supershoppings com mania de grandeza; ali a cafonice brilha e ofusca, mas é por uma boa causa: o consumismo desenfreado, claro. O que não pode é ser “meio” cafona. Isso é pra matar. Aqueles estabelecimentos de médio porte, que já não vão lá muito bem das pernas, e resolvem improvisar uma luzinha aqui, um brilhozinho ali – tipo da coisa que, além de não fazer efeito, faz defeito.

Quando chega a noite, o prédio some, e o que se vê é aquela precariedade natalina; mistura de muita boa vontade com pouca grana, você sabe no que dá.

Eu aqui não providenciei um sino sequer. Mas, a julgar pelo texto, vê-se que estou ficando com inveja.
(Pausa para reflexão).

Comprar umas bolas ali no Carrefour, e já volto.

***

O motivo da cobradora

A cobradora do ônibus - loura mel, penteado equivocado, sobrancelha grossa, unha lascada – ria fora de hora, e ria solto. Quanto é? Ela ria. Quer 20 centavos? Ela ria de novo. Passa no Barrashopping? Ela ria e confirmava, passava.

Sentei dois bancos atrás e fiquei observando, curiosíssima. Chegava a lhe escorrer um doce mistério qualquer pelo meio dos dentes; e sorria, a danada, como se ostentasse uma piscadela cúmplice a si mesma.

Não demora cinco quadras, entra no ônibus um negão de quase dois metros. Afoito e visivelmente alegre, dá dois pulinhos na direção da cobradora e tasca aquele beijo babado de novela; deixa a mulher sufocada e o povo todo besta, olhando. Salta no próximo ponto, a meio quarteirão dali, como se nada tivesse acontecido. Pela porta da frente.

Agora ela ria mais ainda, e o motivo estava bem revelado. Pois o negão trajava bermudas.

15 dezembro 2004

De volta

Minha pretensão e eu esperamos que você não tenha desistido de visitar este blog, mesmo depois de tantos dias de ausência de post.

Isto post, quero agradecer a todos que me mandaram e-mails, recadinhos no Orkut, cartões virtuais, e que deixaram mensagens nas secretárias eletrônicas me felicitando pelo aniversário. Obrigada, obrigada!

Um amigo me telefonou um dia depois:

- E aí? Como foi de aniversário?
- Foi tudo tranqüilo...
- Ah, coisa bem boa. Envelheceu tranqüilamente, não foi?

E tem outro jeito?

***

Reflexão de fim de ano


Esse ano eu adquiri uma hérnia de disco, tive alguns resfriados fortes, rompi os ligamentos do pé direito – além de algumas pequenas doenças paralelas. Nunca visitei tanto médico nesta minha vidinha ordinária.

Portanto, gostaria de sugerir à indústria farmacêutica que criasse uma espécie de colírio diet ou light. Não pra mim, of course, mas para pingar nos olhos gulosos dos que nos cercam. Ia vender horrores. Já posso imaginar, no programa do Leão Lobo, a seguinte chamada:

Acabe de vez com a obesidade ocular do seu vizinho. Colírio diet nele!

Um sucesso, você não acha?

***

Menos uma, menos duas...


Eu falo mal de dezembro, mas sou chegada a um planinho de fim de ano. Anoto tudo num caderno - vou praticar exercícios físicos, boas ações etc. Nunca me ocorrera antes, mas, olha, pode dar certo: que tal virar uma personal-atravessadora-de-velhinhas pelas ruas da cidade?

Assim eu mato dois coelhos. E algumas velhinhas, claro (não sei atravessar a rua nem sozinha, que dirá conduzir alguém).

***

É verdade, tenho fama de não saber atravessar rua. Como meu irmão me dava a mão quando eu era pequena, acabei concluindo que aquilo de olhar para os lados era função dele, não minha. Depois que ele largou a minha mão, um anjo deve ter assumido o cargo. Só pode. Ou eu não estaria mais aqui.

Frase da minha mãe, semanas atrás, ao notar minha cara de desesperada diante dos carros numa avenida movimentada:

- Cruzes! Tu AINDA não aprendeu???

Taí mais um plano para 2005. Nunca é tarde.

20 novembro 2004

Crença

Acredito no amor
Porque já houve noites
Em que me suspirei inteira
E me acordei metade.

Acredito na vida
No sonho, no sexo e na arte.

Só não acredito em deus
Porque aí já seria muita coincidência.

***

Lago

Afoga logo um termo
Pra ver se vira verso
Submerso azulejo
Haja metro,
Haja metro.

Afunda logo um beijo
Pra ver se vira sexo
Submerso desejo
Haja metro,
Haja metro.

Nunca dá pé
o amor raso.

Afoga, logo.
Afunda, lago.

16 novembro 2004

Engorda, logo!

Passava da meia-noite. Eu traçava, sem culpa nenhuma, um sanduíche de salmão defumado com cream cheese no ciabatta. Louca de fome que estava, comia com necessidade de mendigo e prazer de rei. Uma loucura.

Até que a garçonete simpática não se agüenta, e se aproxima:

- Hehe... tem dia que bate aquela fominha, e a gente tem mesmo é que comer alguma coisa que engorda, né? Senão nem tem graça, né? Hehe. Se vai comer na madrugada, pra quê comer light? Tem que engordar, mesmo! Engorda, logo!

Sei. E você tem noção do quanto eu malhei hoje? Sabe o que eu almocei? Sabe o que eu jantei? Tem aí as minhas medidas? Sabe o meu IMC de cor? Conversou com o meu médico? Vasculhou a minha genética? Sabe onde eu acumulo gordura, onde não acumulo? Tem noção de quantas calorias tem nesse prato? Sabe se eu vou a pé de Ipanema ao Recreio, depois que terminar essa orgia gastronômica? Sabe? Sabe?

Não disse nada disso a ela, claro. Apenas consenti e engordei, conforme o sugerido.

Volto lá, não.

***

"Peço a todos com licença
Vamos liberar o pedaço
Felicidade assim desse tamanho
Só com muito espaço"

[Luiz Tatit]

***

Tempo/Vida
[Viviane Mosé]

“Eu acho que a vida anda passando a mão em mim
Eu acho que a vida anda passando a mão em mim
Eu acho que a vida anda passando
Acho que a vida anda passando
Acho que a vida anda
A vida anda em mim
A vida anda
Acho que há vida em mim
Há vida em mim
Anda passando
Eu acho que a vida anda passando
A vida anda passando a mão em mim
E por falar em sexo
Quem anda me comendo é o tempo
Se bem que já faz tempo mas eu escondia
Por que ele me pegava à força
E por trás
Até que um dia resolvi encará-lo de frente
E disse: Tempo, se você tem que me comer
Que seja com o meu consentimento
E me olhando nos olhos
Eu acho que eu ganhei o tempo
De lá pra cá ele tem sido bom comigo
Dizem que ando até remoçando...”

***

Coisa de gaúcho

Diz-se do sujeito que anda desnorteado:
“Mais perdido que filho da puta em dia dos pais”.

Hoho, boa.

***

Riso

O riso solto é um boi esbelto, atlético, quase olímpico, que se foi. Com a corda.

13 novembro 2004

Conhece a do macaco?


Eu não sou boa nisso, mas vou contar uma piada. É velha, tá?

O sujeito viajava de carro, de madrugada, sozinho. A estrada era vazia, zona rural, nada de civilização. Tudo escuro. De repente, fura o pneu.

O cara desce do carro e começa a procurar o macaco; e nada do macaco. Bate um desespero: estou sem macaco, meu Deus, e agora?

Olha em volta, avista uma fazenda com uma casa de madeira ao fundo. Pensa em bater lá e pedir um macaco emprestado, claro. E começa a andar em direção à casa.

No caminho, vai resmungando: “Que azar o meu, furar o pneu no meio desse fim de mundo e ficar sem macaco. Sabe lá quem é que mora nessa fazenda, também... Garanto que o fazendeiro não vai ter um macaco, ou, se tiver, não vai nem querer me ouvir... afinal, um forasteiro batendo à porta no meio da madrugada... vai é me receber a tiros, isso sim... Capaz de eu morrer furado, ou então a pancadas mesmo. Duvido que esse cara tenha um macaco. (E vai se aproximando da casa). Duvi-de-o-dó! (Chega perto). Fazendeiro chucro desses, vai nem saber o que é um macaco... (Bate à porta, enfim).”

Nisso, abre a porta um doce senhor, que pergunta: “Pois não?”

E o viajante responde, no embalo:

“AH, QUER SABER? ENFIA O MACACO NO *$&@#&$¨!!!!!!!!!”

***

Eu acho essa piada muito ilustrativa.

Às vezes, a gente passa dias, semanas, meses, anos pensando na falta do macaco. E resmungando com os próprios botões. Ninguém sabe que a gente sente falta do macaco. Ninguém sabe sequer que o pneu furou. Ninguém sabe que estamos viajando na madrugada escura, talvez.

Lá pelas tantas, quando já estamos prestes a explodir, aí é que resolvemos colocar uma pobre vítima no roteiro. O fazendeiro, coitado, não sabe de nada. Abre a porta no maior carinho, mas aí já é tarde. Vai ouvir desaforo, e de graça.

E xingar o fazendeiro não resolve absolutamente nada.

***

Filosofia de piada. Valha-me Deus.
Não sei como vocês me agüentam.

12 novembro 2004

Agora eu estou com internet banda larga e vocês vão ter que me engolir on line 24h por dia que beleza de vida escrever mais no blog acesso rápido linha telefônica livre e-mails pulando na minha caixa postal a cada minuto sites carregando - ploft – arquivos baixando – ploft – eu aqui lendo comentários de vocês e respondendo – ploft – corra Bíbi corra que maravilha tecnológica meus bichos sendo saciados é como se antes eu bebesse água de conta-gotas e agora estou bebendo direto do gargalo.

Assim que eu gosto.

***

Falar em gargalo

O garçom do restaurante foi me servir de cerveja e inclinou o copo com o gargalo – sabe como eles fazem, né? Pra quê: eu dei um pulo e me grudei no copo com as duas mãos, tipo ‘vai cair esta merda, ô!’...

Risadas gerais. Caaalma, Bíbi!

Calma nada. Calma era no tempo do conta-gotas.
Agora é fiasco banda larga, ninguém me segura mais.

***

Placa do dia

“VENDE-SE ESTE
RCO”


Perguntaram o que, afinal, era o tal RCO.
Resposta:

“RCO??? Sei disso, não. Olha, moço, nós aqui vendemos esterco...”
Tava explicado.

***

Vem cá, qual é a idéia do Lulu Santos com aquele cabelo, digamos, meio crescido – para cima?
Algumas coisas me assustam um pouco.

***

Meu irmão traz na mão uma cicatriz que ele jura ter sido causada por uma espécie de palito de ferro que eu teria cravado – a palavra que ele usa, imagina – ali, entre o polegar e o indicador dele. A cada encontro com alguma pessoa nova nas nossas relações, ele acha uma oportunidade e relata o feito. Como ele pensa que ocorreu, claro.

Na verdade, eu apenas arremessei o ferro em direção à mão dele – que estava parada. Então ele se distraiu, sei lá, mexeu a mão, o ferro pegou um vento e se animou, a mão de lá, o ferro de cá, o ferro indo, a mão vindo, algum fenômeno físico que não sei explicar, pronto, resumindo: o ferro entrou na pele dele e, vá lá, furou um pouco.

Mas foi a mão, poxa, não foi o olho.

08 novembro 2004

Sagitário

Sabe aquelas frases que ilustram a personalidade de um signo?
A minha eu nunca esqueci.

Diz que o sagitariano está andando em linha reta, convicto, decidido, o passo firme, o olhar certeiro. Todo mundo que está em volta se admira: nossa, olha só a determinação do sagitariano! Onde será que ele vai?

Até que alguém , morrendo de curiosidade, resolve perguntar:

- Sagitariano, desculpe me meter, mas... onde é que você está indo, com toda essa determinação?

E ele, casual:

- Hein? Ah... tô só atravessando a rua mesmo.

***

Eu sinto a mesma coisa quando alguém me ouve falando e comenta:
“Nossa, mas ela tem um vozeirão, né?...”

Fachada, meu bem. Pura fachada que Deus me deu.
Não mato uma barata.

***

Placa do dia (verídico)

“AQUI VENDE PEIXE-SE”


***

Tédio – mas nem tanto

Um tédio colossal nos atormentava neste ordinário domingo chuvoso. Um olhando pra cara do outro. Cada qual leu o jornal e a Época três vezes. O telefone simplesmente parou de funcionar. Nossa conexão com a internet, ainda discada, babaus. Fiz comida. Comemos. Comemos mais. Comemos outra vez. Sair não resolveria – domingo chuvoso, imagina a fila dos cinemas. DVD? Já vimos todos os lançamentos. Comemos mais um pouco, então.

Saio-me com a seguinte reflexão:

- Puxa vida... a gente aqui, nesse tédio. Veja só, se nós fôssemos sócios de uma dessas academias de bacanas, essas que parecem clubes, poderíamos estar, numa hora dessas, malhando... sei lá...

E ele franziu a testa.

- É verdade. É para a gente ver como as coisas poderiam ser piores. Bem piores.

- Ô, nem me fale...

E comemos outra vez. Graças a Deus.

07 novembro 2004

O telefone toca às 2h da manhã:

- Eu te acordei?
- Não.
- Não mente...
- Não!
- Não mesmo?
- Não, pô!
- E O QUE È QUE VOCÊ FAZ ACORDADA A UMA HORA DESSAS?

Depois, a mulher é que é um bicho complicado.

***

E a resposta:

“De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo”
...
[Vinicius de Moraes]

***

Diquinha Biblog do tipo auto-ajuda

Sabe aquilo que você anda remoendo?
Em vez de remoer, passe a remover.
Tiro e queda.

***

Você sabe que essas pessoas que trabalham com a escrita não são muito certas da cabeça. Eu outro dia acordei, no meio da manhã (imagina), com uma frase “genial” estourando na mente. Anotei no caderninho - isso aqui dá crônica, ou poesia, sei lá.

Quando acordei e fui conferir, era uma bosta de frase.
Dava insônia, e olhe lá.

***

Tinha uma mulher com saia pelo joelho, sandália fina, cabelo impecável, blusinha delicada. Sentada elegantemente, pernas cruzadas, comia uma salada e bebia água mineral.

Sentei atrás dela.

Quinze minutos depois, ela pediu a conta. Não veio. Pediu de novo. Não veio. Terceira vez:

- CARALHO, DÁ PRA TRAZER A PORRA DESSA CONTA HOJE AINDA, OU TÁ DIFÍCIL???

E o restaurante inteiro ouviu a classe dela se espatifando no chão. Acontece, né.

05 novembro 2004

Sobre os sacos aqui de casa


Dividimos um apartamento há 7 anos, meu irmão e eu.

Ele pediu alguma coisa na padaria, e está guardando as compras. Eu fico observando. Ele pega um saquinho plástico e fica enrolando com aquilo na mão, passa de uma mão para outra, devolve, amassa, estica. Não saio dali. Ele desiste, me olha:

- Tá bom. Eu não tenho a mínima idéia de onde se guarda isso.
- Isso o quê?
- Isso! (Esticando o saquinho na minha frente).
- ISSO se chama saco plástico, e se guarda no puxa-saco, o nome já diz. É esse treco de pano pendurado aqui na parede há uns 7 anos, mais ou menos. Tá vendo?

Ele olha o puxa-saco na parede, assustado, como se tivesse visto uma aranha.

- Tá bom, mas é que você enrola de um jeito que eu não sei enrolar. O saco.
- Pode enrolar de qualquer jeito, isso não importa.

Ele enrola de tal modo que, ao invés de diminuir o volume do saco, aumenta. Incrível. Ninguém mandou eu dizer que não importava. E guarda o saco no puxa-saco, como quem realiza uma operação delicadíssima. Em seguida, começa a fazer o mesmo com um saquinho menor.

- Não, esses pequenos eu guardo noutro lugar.
- Jura?? Por quê?

O sujeito não entende nada de sacos. Viveu 7 anos, numa boa, sem saber da existência do puxa-saco. E agora vem questionar o porquê do meu tratamento diferenciado aos tipos de saco. Eu mereço.

- Porque sim, porque os menores eu uso para cascas de frutas e legumes, prefiro que fiquem aqui desse outro lado, assim já vou direto com a mão no saco desejado.
- Se tu diz...

Começa a olhar um saco que veio com um furinho. Ele ameaça um desdém, eu me adianto:

- Esses furados ficam aqui junto com os pequenos...
- Ah, não! Saco furado também se guarda???
- Eu guardo, sim senhor! Dá licença?
- Pra quê?
- Para as garrafas vazias de refrigerante!
- É??? Eu jurava que as garrafas vazias de refrigerante sumiam depois que a gente colocava ali naquele cantinho...!!!

Respiro beeeeem fundo.

- Não é que elas sumam. Sou eu que ponho tudo no saco furado, depois abro a porta, saio no corredor e – uau! – derrubo no duto do lixo.
- Nossa. Impressionante. E eu, há 7 anos, sem conseguir parar ali naquele cantinho sinistro. Medo de sumir também, sei lá.

Medo de colocar meu irmão num saquinho furado, abrir a porta, sair no corredor e... vocês sabem.

PS: Tá bom, não deve ser fácil viver com uma pessoa que separa os sacos e guarda os furados, admito. Mas só guardo se o furo for mínimo. Se for um rasgo, escondo numa gaveta no meu quarto. Um dia eu vou achar utilidade, tenho certeza.
E mão-de-vaca é a mãe.

04 novembro 2004

Pobreza é relativo


Um amigo lá do Sul me telefona para matar as saudades. Entre outras barbaridades geniais, solta a seguinte:

- É para tu veres como pobreza é um conceito relativo. Hoje eu fui à farmácia. À minha frente, na fila, um guri contava moedinhas, com dificuldade. Que judiaria, pensei. Gurizinho novo, de chinelo gasto, bermuda puída. A despesa era maior que ele. E eu, aqui atrás, comprando meus luxos sem sentir coceira no bolso. Bateu aquela consciência social, sabe?

- Sei, sei... é triste, mesmo.

- Triste, né? Pois tu sabes o que o desgraçado estava comprando?? CAMISINHA! CAMISINHA, Bíbi! Pobre sou eu, isso sim!!! Sabe há quanto tempo eu não tenho precisado comprar camisinha???

Achei melhor nem saber.

03 novembro 2004

As palavras
d a n ç a m
ou é só impressão?

A palavra
amor
dança lento

A palavra
tesão
dança colado

A palavra
saudade
tem pisado no meu pé

E a palavra
esperança
amanhece varrendo o salão.

02 novembro 2004

Finados


Diz pra mim que amanhã é quarta-feira útil e que tudo vai funcionar direitinho, da padaria ao meu intestino, dos bancos ao meu bom humor institucional, da faxineira ao colégio das crianças, do consultório dentário ao caos no trânsito. Tudireitinho. Diz pra mim, vai.

Tô agüentando esse feriado espichado dedicado aos falecidos, não.

Adiantamos uma hora, mas não adiantou lá muito. Meu tédio tá me olhando - com cara de você sabe o quê -, e me cutuca de hora em hora pra dizer:

- Assunta alguma cousa, tchê.

Estou quase estrangulando alguém. Sai da frente, meu anjo.
Sai da frente, que é pro teu bem.


Coquetel trash

Aproveitei que a minha mãe foi viajar nesse feriado e jantei, ontem, um coquetel explosivo: Baconzitos com Fandangos.

O detalhe é que a minha mãe mora no RS e eu, no Rio. Há 7 anos.

Mas, sei lá, sempre é bom dar uma radicalizada quando os pais viajam.
Teste. Funciona, blogzinho de uma figa.

01 novembro 2004

DVD - Cristina quer casar

Depois de hooooooooras perambulando pela locadora sem conseguir um filme decente que eu ainda não tivesse visto – e que não estivesse locado neste domingo de feriadão -, cheguei no nacional “Cristina quer casar”. Com Denise Fraga, Marco Ricca (que eu adoro) e Fábio Assunção. A expectativa era zero, confesso. Voltei para casa bufando; está bem, o calorão de hoje X minha disposição para andar a pé pelo bairro às 3h da tarde ajudaram...

Trata-se de uma comédia romântica pouco original – mulher de 34 anos quer casar e resolve procurar uma agência matrimonial, blá blá blá -, mas sabe que é bem bonitinho? Denise Fraga encarna uma Cristina do tipo poderia-ser-qualquer-uma-de-nós; cheia de contas para pagar, desempregada e boa gente. Tipo da coisa que ela faz com um pé nas costas, estamos acertados?

Marco Ricca e Fábio Assunção completam, com ela, um triângulo cheio de humor e quase sem surpresas, e assim o filme se dá: fofo e previsível, como 90% das comédias românticas que se prezem. Se querem saber, acompanhou muito bem o meu porre de Coca Light no fim de tarde do domingão pré-finados.


Churrascaria (o nome já diz, né?)

Convidei meu irmão para ir a uma churrascaria. Na fotinho da propaganda, havia um enorme buffet de comida japonesa. Não como carne. Meu interesse culinário era claramente nipônico, não escondi isso de ninguém. Nem da moça que atendeu ao telefone quando liguei, à tarde, para me certificar de que não ficaria só na saladinha:

- Tem comida japonesa, não tem?
- Tem no buffet, sim, senhora.
- E é bem variada, certo?
- É o nosso buffet, senhora. A senhora já esteve aqui, não já?

Não-já. Essas moças têm mania de “não-já”. Não, eu não-já nunca tinha ido. Se tivesse ido, não-já teria ligado para pedir informações sobre algo que eu já conhecesse. Não-já seria óbvio?? Desliguei. Bem feito pra mim.

Não só não-já era óbvio, como tive ingrata surpresa ao conferir, ao vivo e em (poucas) cores, o tal buffet japa. Sem mentira: três ou quatro bandejas, se tanto, com meia dúzia de sushizinhos murchos em cada. Só.

Fiquei com tanta raiva, mas tanta raiva, que nem a salada eu pude aproveitar direito. Murcha também, te digo. Mano se esbaldava numa carnificina contagiante, passou até mal depois. (Não foi olho gordo, juro).

Eu devia ter imaginado. Churrascaria. O nome já diz, né.


É fantástico

Reportagem no Fantástico sobre adolescentes que estão “pendurados” nas notas da escola neste fim de ano. “Especialistas orientam” (sempre eles): mais diálogo em casa. Adolescentes, por sua vez, desorientam: não estou nem aí, quero mais é fazer festa; se tomar bomba, f***-se.

Sinceridade?

Se o pirralho chega à adolescência com esse tipo – sem esse tipo? – de idéia na cachola, é bem feito para os pais.

Ou será que o Fantástico é que foi omisso nos últimos 13 anos?

Mais provável é que tenha havido overdose de Fantástico, isso sim.